A válvula
- Você lembra do Inácio?
- Sim, me lembro, tem um tempão que não o vejo.
- Sei, ele bateu as botas, cara...
- Caramba, não sabia. Que pena, era um cara legal...
- Era, sim.
- Mas morreu de quê?
- Não sei bem, alguma coisa como ataque fulminante na válvula, sei lá...
- Válvula?
- É, não sei se você sabia, mas o Inácio vivia reclamando de sua válvula. O pessoal achava que era malandragem dele para não ter que trabalhar.
- Puxa...
- Fico imaginando essa turma agora ao saber que o coitado morreu por causa da bendita válvula.
- É verdade. Mas que válvula era essa?
- Não tenho a mínima ideia, talvez alguma coisa ligada ao coração, eu acho.
- E a mãe dele, parece que ele não tinha pai, né?
- Ah, é verdade, a mãe era viúva, eu acho. Mas ela ficou numa boa, parece que tinha um seguro de vida e com a morte do Inácio, a velha pegou uma grana boa.
- Menos mal, não?
- Sim, sim, praela sim, mas o pessoal ficou meio desconfiado da velha.
- Como assim?
- Sei lá, todos os chegados sabiam da tal da válvula que o Inácio vivia reclamando, daí o pessoal acha que a velha pode ter feito alguma coisa para ela explodir.
- Nossa, isso é macabro, a própria mãe...
- É, eu não sei, não conhecia bem a mãe dele, mas hoje em dia, meu amigo, o que não se faz pra ganhar uma grana dessa...
- É verdade. Bem, que o Inácio descanse em paz.
- Amém.