CONTOS DE PAULO COELHO

CONTOS DE UM ALQUIMISTA - PAULO COELHO

DÊ O MELHOR QUE VOCÊ TEM

Há algum tempo, minha mulher ajudou um turista suíço em Ipanema, que se dizia ser vítima de pivetes. Num sotaque carregado, falando péssimo português, afirmou estar sem passaporte, dinheiro, lugar para dormir.

Minha mulher pagou-se um almoço, deu-lhe a quantia necessária para que pudesse passar uma noite num hotel enquanto contatava sua embaixada e foi embora. Dias depois, um jornal carioca noticiava que o tal turista suíço era, na verdade, mais um criativo malandro carioca, fingindo sotaque inexistente, abusando da boa fé de pessoas que amam o Rio e querem compensar a imagem negativa que - justa ou injustamente – tornou-se o nosso cartão postal.

Ao ler a notícia, minha mulher fez apenas um comentário: “não é isso que irá me impedir de ajudar ninguém”.

Seu comentário me fez lembrar a história do sábio que, certa tarde, chegou à cidade de Akbar. As pessoas não deram muita importância à sua presença, e seus ensinamentos não conseguiram interessar ninguém. Depois de algum tempo, ele tornou-se motivo de riso e ironia dos habitantes da cidade.

Um dia, enquanto passeava pela rua principal de Akbar, um grupo de homens e mulheres começou a insultá-lo. Em vez de fingir que ignorava o que acontecia, o sábio foi até ele e os abençoou.

Um dos homens comentou:

- Será que, além de tudo, estamos diante de um homem surdo? Gritamos coisas horríveis, e o senhor nos responde com belas palavras?

Ele então respondeu, com voz tranquila:

- Cada um de nós só pode oferecer o que tem.

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