O Segredo do Alfaiate - BVIW
Logo de manhãzinha, ele subia as escadas que levavam ao sótão e no quarto de costura, abria as cortinas e a janela de madeira azul, e assim começava seu dia... Gustavo ficava horas, envolvido, com a confecção de ternos, calças e camisas, tendo por companhia um gato. Em uma das prateleiras havia caixas de sapatos com botões de vários tamanhos, formas e cores, alguns deles, mais antigos de osso e de madeira que ele guardava como, se tesouros fossem. Às vezes, segurava um deles e ia até a janela e o colocava como se estivesse fixo no céu em tons de gris; poderia seu a lua, o sol, uma moeda, uma pipa ou apenas um botão - circular rotina - pensava assim o alfaiate poeta.
No fim de tarde quando o som da máquina de costura aquietava-se, ele se aproximava da pequena estante, perto da porta e pegava um diário e escrevia algumas palavras que alinhavadas por sua inspiração transformavam-se em belas poesias e instigantes contos... Havia, nessa estante entre alguns livros de Filosofia, e três folhas do plátano, a estatueta de uma pomba, qual seria seu segredo? Foi presente de um amor especial - tão distante - e antes de fechar as cortinas ele a colocava na janela e por um tempo mágico, não marcado no relógio, ela despertava suas asas de marfim, tecidas com poesia e sonhos e, livres, eles juntos voavam...
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Tema: O segredo da pomba