Quinze pras dez da noite… Todos dançavam… o som era absurdamente alto; num lugar absurdamente pequeno. Era quase uma tortura, mas todo mundo estava ADORANDO estar ali… menos eu. Adoravam pois era profano, pois era pagode baiano… E eram rebolados, eram pernas e bundas, seios e coxas… e muita conquista, suor, carne… sexo. Eu estava sentado tomando um copo de suco e sentindo pena de mim mesmo, por não me adaptar a lugares assim. “Pelo menos a gente pode rir da cara dos outros…”, era o que um amigo sempre dizia… Uma loira linda num vestido branco e bem curtinho, dançava me olhando e sorrindo; o que me deixava ainda mais infeliz… “O que ela tá pensando que eu vou fazer?! Não vou entrar nessa dança! Não vou forçar minha natureza por uma mulher qualquer…”. É o que eu dizia, e repetia e repetia, pra me convencer de que não me movia do lugar, por ser um cara de princípios. Mas… era o velho e bom MEDO de sempre, aliás… bem que eu queria… desviava o olhar e bebia mais um gole de suco. Ela parecia se divertir com cada atitude – ou falta de atitude – de minha parte. Meia noite… Meus olhos começavam a fechar sem minha vontade. Eu já queria ter ido embora há horas… Mas meus amigos estavam espalhados pela casa de show, dançando com desconhecidas. A loira não olhava mais pra mim… “Deve ter percebido a espécie de babaca que eu sou e… OXENTE?! Sumiu? Onde ela foi?”…Me levantei e saí – sabe-se lá porquê– procurando por ela. Algo dentro de mim, me dizia pra fazer isso… Meus amigos perguntavam às gargalhadas se finalmente eu tinha tomado coragem. Eu ria sem jeito, mas sabia que quando a encontrasse minhas mãos gelariam… meu rosto ficaria fervendo e formigando… e nem um dedinho de prosa sairia de minha boca. Fui andando, me esbarrando na multidão, procurando por minha donzela em perigo. Dei umas três voltas e não a encontrei. Voltei me arrastando, desolado… até minha cadeira. Cochilei… Duas e quarenta e duas da manhã… Estou sonhando…?