João Sem Braço
A história de um João Qualquer Brasileiro é sempre muito triste desde que o maldito é pequeno. Mas agora adulto, o flagelado sente que o peso da sua existência é muito maior e impossível de ser carregado.
Deitado e todo coberto treme de frio em seu quarto, tipicamente sulista. Ouve o barulho da goteira no banheiro, contando segundo a segundo sabendo que isso não tem fim; Ouve um pássaro na rua que não pia, apenas arranha alguma coisa criando um som estranho, confuso. Ouve dezenas de vozes na sua ca beça todas o acusando de algo que ele não cometeu. O mundo todo parece querer sua morte, sua desistência. Nesse momento que seu peito se rasga em silêncio, denunciando o vazio deixado por seu pai. Que falta faz o pai na vida do filho homem!
Na cabeça do menino a dor do parto sentida pela mãe não se compara ao acidente de trabalho do pai, que abriu sua cabeça em duas partes (não necessariamente expressa a opinião do autor). Os meninos, e principalmente os homens, pensam que as mulheres suportam mais a dor porque as amam. Sentem prazer com elas e admiram os homens com o tanto de dor que ele pode causar a ela. A atração é igualmente impressionante e repugnante, mas é a natureza, justifica o tal João Sem Braço.
Já para ele, um homem, demonstrar a dor é uma afirmação de sua fraqueza. Mas ele continua sentindo, apenas dissimula. E esse será o seu esporte favorito na vida: dissimular as situações em seu favor, sempre. Mas não consegue mentir a si mesmo, tanto que pratica isso com os outros, está treinado. É pego na própria armadilha que criou. E agora João Sem Braço? Não seriam as vozes sua própria consciência? Quem o acusa? Quem o perdoará?