DA PAZ, A GATA e PANTERA ( parte 6)
DA PAZ, A GATA e PANTERA ( parte 6)
É certo que às vezes era preciso fazer mil peripécias e inventar absurdas desculpas para comparecer aos jogos, (afinal era um jogo por semana) e o seu repertório já estava se esgotando. Assim um belo dia ele anunciou solenemente em casa, que seguindo as recomendações do cardiologista resolvera cuidar um pouco mais da saúde praticando atividades físicas para combater o sedentarismo
Assim, comprou tênis, calção, agasalho esportivo, estava todo aparelhado, e pra não dar trabalho em casa, mandava lavar tudo em uma lavanderia e deixava todo o seu equipamento no escritório. Resolveu assim o problema crucial da ausência para cumprir o comparecimento nos jogos semanais. Além do mais havia ainda os jogos em casa e ele não podia dar mole Sabia muito bem que quem não comparece, abre concorrência! Mas ele tinha um pique incrível pra jogar todos os dias se fosse possível ou necessário.
Ele estava literalmente a todo vapor, um dia, no entanto pintou um jogo em pleno domingo de manhã, e era em outra cidade, mas no sábado era o dia do aniversário de um dos netos. Ele não podia faltar à festa e não podia também de jeito nenhum deixar de comparecer ao jogo! Afinal, nenhum bom avô que se preze deixaria de comparecer a festa de aniversário do neto, e Da Paz era um avô exemplar e acima de toda e qualquer suspeita! E nenhum cinquentão apaixonado perderia uma partida com uma Gata-de-olhos-de-mel!
Mas a paixão por mais sublime ou tresloucada que seja leva qualquer um à atitudes inusitadas e impensáveis. No fundo Da Paz sabia que mais dia menos dia o jogo podia acabar e era preciso dançar enquanto houvesse música, e jogar enquanto houvesse jogo!
No entanto o que não lhe faltava era imaginação, afinal a Gata-de-olhos-de -mel era uma fonte inesgotável de inspiração. Festa de criança não passa das dez horas da noite, e ele já havia anunciado que o seu “jogo” seria no domingo de manhã, como a partida era em outra cidade, ele iria tão logo terminasse a festinha de aniversário, queria estar inteiro para a partida.
Ninguém colocou qualquer objeção, afinal era visível que depois que começara a praticar esporte Da Paz vivia sempre de bom humor, sempre alegre, prestativo, e o melhor de tudo, vendendo energia e saúde!
Mas como eu já disse, Da Paz sabia que não há mal que sempre dure e nem paixão que não se acabe! Um dia ou outro a casa podia cair, e caiu! Nas viravoltas que o mundo dá não lhe era possível ficar vinte e quatro horas por dia dedicando-se total e exclusivamente à Gata-de-olhos-de-mel! Era inevitável, e oito meses depois o campeonato terminou.
(continua)