DA PAZ, A GATA e A PANTERA ( parte 4)
DA PAZ, A GATA e A PANTERA ( parte 4)
Às vezes um samurai aparecia assim de repente, o sabre brilhando em sua mão, o olhar de aço penetrante, assustador, Da Paz voltava à realidade! Até com um certo prazer e eu acho que para tirar mais ainda o sossego do Da Paz, ou para ver se ele se decide, a gata lhe conta tudo sobre as investidas e cantadas dos gaviões, os convites, as promessas, tudo! Da Paz se remói de ciúmes, de inveja ou de um sentimento que ele não sabe explicar, ou finge não perceber, mas continua na dele.
Um dia a gata lhe confessa que está pensando em quebrar o compromisso feito com ela mesma, de esperar pela volta do samurai. Confessa que está balançando, que ninguém é de ferro, e que talvez não valha a pena ficar se guardando para um homem que nem sabe quando volta se é que volta! Ela havia saído para jantar com um rapaz que trabalhava no escritório em frente, conta que ele é gerente de informática, tem vinte e sete anos, é muito simpático, e ela está seriamente pensando em colocar um fim na sua abstinência sexual.
Da Paz pensou lá com os seus botões que vinte e sete, mais vinte e três, dava quase a sua idade, e se sentiu fora da parada, no fundo achava que era bem melhor para a Gata se envolver com alguém jovem como ela. Escondendo seus sentimentos, pergunta em que lugar eles haviam ido jantar, e a gata lhe diz que foram a um restaurante dançante onde a atração musical é o tango, então Da Paz fica sabendo que o rapaz é argentino. Aquela noite, (nem precisava dizer) Da Paz não teve um pingo da dita cuja! Os pesadelos o assombravam, e agora a ameaça não vinha do samurai dos olhos frios de aço empunhando o seu sabre, era muito pior, ela vinha vestindo o uniforme azul e branco da seleção argentina. Ninguém merece! As nuvens brancas do seu constante pesadelo haviam se transformado em um gramado verdinho.
Era o momento decisivo, ele ajeita a bola na marca de pênalti, sente que as suas pernas pesam toneladas, é o peso da responsabilidade, o goleiro vai se transformando em uma gigantesca muralha azul e branca, num flash ele vê os olhos da Gata-troféu, que sorri tranquilamente alheia ao seu sofrimento. Acorda num sobressalto! Torna a dormir, ou melhor, a sofrer!
Agora ele é o goleiro, seu algoz enverga uma camisa azul e branca e caminha resoluto em direção a bola, defender aquele pênalti é botar as mãos na taça, ou melhor, na Gata. Ele pensa na importância das traves, bem que elas podiam ser mais largas, já ajudava um pouco, reza para pular no canto certo, fazer a defesa espetacular e se consagrar, sabe que apenas um dos protagonistas vai entrar para a história, e mentaliza a defesa miraculosa! Lembra-se do Dieguito Faroleiro, contando vantagens, com aquela peculiar arrogância dizendo que se não fosse pelo vício, ele seria o Rei!
Da Paz é campeão, também tem treze letras, é um bom sinal! (continua)