Página de conto - BVIW

Guardar? Emanuely havia guardado um pouco do riso acompanhado de lágrimas nem tão belas quanto as que Lobão cantava enquanto chovia lá fora. Em seu peito não fazia frio. Guardava tantas coisas para o depois, para guando precisasse e em breve as veria sumindo na correnteza do rio.

E livros? Tantos para ler depois...exceto um que recebera a pouco e lhe deixara energizada saboreando as entrelinhas da vida. Descobriu que lê-lo era como provar do café da autora, sentir o prazer da companhia, saber do sentido das coisas e sua relação com os sentimentos do mundo. Por trás da escrita pragmática e bem construída havia um profissionalismo que se sentimentalizava naturalmente fazendo do livro tudo o que não deveria ficar guardado apenas para uma pessoa só.

Então, sentada com ele no colo, fez-se na varanda de café com a autora, a prosear sobre a vida.

- Amiga, mudei e trouxe tudo para não deixar nada para o depois, nem o princípio, nem o meio, nem o fim.

- Deixa ir. Deixa tudo ir para ficar bastante espaço vago para o novo.

Ela estava certa. Muitas vezes a vida da gente é como um conto em conta gotas. Nas gotas de hoje cabem essa página. Nas de amanhã se aconchegarão outras. Não há dias comuns em vidas intensas, fora o que há para agradecer. - muito obrigada a você.

Marília L Paixão