A SALIÊNCIA DE CARMINHA
Fiquei zanzando no aeroporto já que meu vôo atrasaria cerca de uma hora. Me pus a olhar lojas, reação de passageiros e o modernismo daquele ambiente cheio de intelectuais e agora também de pessoas simples como eu. Era minha segunda viagem de avião rumo a São Paulo saindo do Recife. Ansioso e sem conseguir ficar sentado aguardando a hora do embarque fiquei feito barata tonta, lá e cá e sempre consultando o relógio. Foi nessa ocasião que vislumbrei uma figura que mexeu com a minha mente, tive a impressão de que a conhecia de algum lugar. Era uma mulher bastante bonita e elegante e estava acompanhada de um homem, possivelmente seu marido, cada um com uma mala de viagem, daquelas com rodinhas. Fiquei atento a observá-la quando parou, falou alguma coisa com o seu acompanhante que se retirou rapidamente deixando-a sentada em uma cadeira um pouco impaciente. Cheguei mais perto, já que ela estava sozinha, ficando a observá-la mais de perto e até na tentativa de fazê-la sentir a minha presença ali. Talvez ela me reconhecesse primeiro. Até sentei ao lado dela que me olhou com bastante firmeza. Iniciou-se aí um diálogo que começou por ela:
- Tenho a impressão que já vi o senhor em algum lugar.
- Engraçado, também tive essa impressão quando a vi. Vamos tentar ver se realmente nos conhecemos.
Começamos a confabular sobre onde morávamos, sobre o trabalho de cada um, o que fazíamos na vida, etc. e tal. Seu nome era Maria do Carmo e até aí nada que pudesse nos identificar como antigos conhecidos. Resolvi ir mais atrás, até o passado, perguntando onde ela estudou quando jovem. Citou alguns colégios, porém quando disse que estudou no Colégio Moderno aí eu matei a charada. Era a famosa Carminha, aquela colega de classe que eu tanto admirava e até cheguei a ter um namorico com ela. Pronto, aí ela se abriu toda, parecia aquela Carminha quando tinha seus 16 para 17 anos, muito radiante, que ria a toa e se achava a aluna mais dedicada do colégio e também a mais namoradeira, razão de eu ter tido essa oportunidade de namorá-la, mesmo por pouco tempo, pois ela não perdia tempo. Rimos a vontade quando relembramos o nosso tempo, as nossas idas ao cinema Central, que ficava próximo ao colégio, além de outros fatos engraçados que pautaram o nosso curto tempo de relacionamento. Perguntei sobre o homem que estava com ela, que me respondeu assim:
- Esquenta não, é meu marido, não tem problema nenhum se ele ver a gente conversando. Eu vou falar a verdade, dizer que fomos colegas de colégio e pronto, só não vou dizer que a gente namorou.
Carminha era uma menina bem expansiva, cortejada e respeitada pela turma. Lembrei, com a ajuda dela, que chegou a namorar o Saulo, da classe vizinha a nossa, depois foi a minha vez. Ela não era de se apegar a ninguém, isso eu já sabia, mas quis tirar a minha onda, sabe jovem como é, tem que aproveitar certos momentos da vida.
Enfim o marido dela voltou, ele fôra checar no guichê o portão onde entraria para pegar o avião. Nesse ínterim trocamos nossos telefones e ela me disse que estaria viajando para São Paulo, onde morava, pois tinha vindo ao Recife a passeio visitar parentes que aqui deixara. Quando ela soube que eu estava indo para a capital paulista ficou alegre e me convidou para visitar sua residência. Fiquei sem jeito, mas ela insistiu e disse que me ligaria para relembrarmos melhor e mais tranqüilamente o nosso tempo de colégio e que seu marido não se oporia. Ela apresentou o marido Everaldo, apertamos as mãos e nos damos muito bem nesses primeiros momentos. Eu tinha dito prá ela que meu vôo havia atrasado e nos despedimos, ficando no aguardo de novo encontro lá em São Paulo.
Enfim levantei vôo com mais de uma hora de atraso, estava indo para São Paulo a trabalho onde participaria de uma reunião onde ficaria por apenas dois dias em um hotel. Eu já estava seguindo para o hotel num táxi quando o celular tocou. Era Carminha. Senti uma estranha emoção, me senti como aquele rapaz que era da mesma faixa de idade dela quando freqüentávamos o Colégio Moderno, em Afogados. Como Carminha já tinha chegado em casa, tinha dito ao marido que iria na casa de uma amiga levar um presentinho que tinha prometido. Que nada, ela queria se encontrar comigo, pois sabia que eu iria para um hotel. Como ela conhecia muito bem a cidade mandou que eu a esperasse na frente do mesmo e para lá se dirigiu. Em poucos minutos estávamos juntos e ela muito mais radiante do que naquele momento no aeroporto. Me abraçou efusivamente e disse que me acompanharia até o quarto. Já no quarto do hotel ela me elogiou muito e que queria fazer aquilo que nunca fez no tempo de namoro. Não tive outra alternativa senão atender ao seu pedido e caímos na cama para deliciosos momentos de prazer. Me senti aquele namorado dos tempos idos, em plena juventude, abraçando aquele corpo maravilhoso e sensual e inciando um colóquio amoroso da mais alta categoria. Carminha voltou a ser a minha namorada, pelo menos nesse dia. Ela teve que ir embora logo, pois o marido a esperava, combinamos nos encontrarmos em sua residência.
No dia seguinte, depois da reunião de trabalho, fui até sua residência, pois estava de posse do endereço que me forneceu. Em lá chegando fui bem recebido por Everaldo, que me ofereceu um vinho com petiscos, ele já sabia que eu iria. Conversamos bastante sobre o tempo passado quando eu e sua esposa fomos colegas de classe. A visita foi tão boa para ambos, marido e mulher, que me convidaram para jantar. Em um momento enquanto Everaldo foi até um mercado comprar alguma coisa que Carminha, propositadamente, mandou, caímos na cama numa "rapidinha", já que no dia seguinte eu estaria viajando para o Recife.