Naquela manha Lídia ouviu a campainha da porta, e pela persiana viu uma caixa na soleira. Ficou curiosa quem havia mandado, seria um presente? Entrou e colocou-a na mesa da cozinha. Cuidadosamente abriu-a com uma tesoura, e viu que dentro haviam pilhas de cartas, todas devidamente arrumadas com laços de barbante. Reconheceu imediatamente a linda caligrafia de seu avô.
O dia estava chuvoso, perfeito para um mergulho no passado. Fez um café pretinho, sentou foi para seu escritório e começou a aventura. Sua avó era professora, e seu avô um estudante em um outro Colégio. Passava em frente de sua casa e ela sempre estava na janela. Impossibilitado de falar o que sentia, deixava cartas na porta falando de seu amor. Ela era tão delicada e tímida e assim que ele passava, corria para lê-las. Eram olhares mudos e tantos segredos - um amor sem gestos.
Em uma das cartas, seu avô terminava assim: "E sinta meu caloroso aperto de mão". Quanta emoção deveria ter um aperto de mão naquele tempo! Parou a leitura por um instante, olhando para cima numa cena imaginária: deveria ser hoje como um beijo de língua, ou uma carícia ousada por dentro da roupa?
Como podia ser tão romântico? Com a perfeição de sua letra - as cartas pareciam bordadas à mão.
Lídia pensou que diante daquele amor, todos os temas da vida pareciam ter desaparecido.
E hoje, restaram 6 filhos, netos e bisnetos para contar essa história.
Conto: "Tema foi pro brejo"