Dançando na chuva - BVIW
Um fio de alta tensão rompeu-se durante o temporal, e ainda energizado bailava feito serpente traiçoeira na pista, de um lado para o outro. Um breu que mais parecia o buraco negro, e quem se aventurasse a passar por ele, não voltava, desaparecia. Era a noite dos mortos, e o clima de terror. Uma voz, de repente, surgiu da escuridão: - Giocondaaa!!! Sem resposta, a voz ecoou mais forte e mais forte até que uma ventania desfolhou o pé de Salgueiro. O vento surrupiando e o fio dançando, um dueto de tirar o fôlego e fazer parar o coração. E como mágica, uma égua pocotó atravessou o nevoeiro, surgindo da escuridão mancando, e logo atrás, um bigodudo com um chicote na mão. – Gioconda, volte aqui!!! Gritou o homem. E quando arremessou o chicote para pegar em Gioconda, o fio de alta tensão uniu-se a ele. Finalmente encontrou seu par, e o pacto até que a morte os separem foi uma cláusula respeitada. É que os anjos da boca mole disseram amém. Gioconda, por um instante, olhou a cena taciturna. De vítima ao papel de testemunha. Sem relinchar, desapareceu misteriosamente. A chuva cessou, e o fio sem vida ficou estendido no chão.