O medo nos passos! - BVIW
Em noites escuras os olhos são obrigados a enxergarem mais do que podem, tamanho o esforço para conseguir ver um pouco de tudo. Esforço em vão...
Os passos eram largos na estreita rua que levava de uma a outra até a próxima esquina. Depois a travessa, onde distantes luzes fracas de velhos postes não alcançavam. Galhos de árvores da vizinhança balançavam causando chiados e arrepios. O frio puro já não bastava. A ventania fazia doer. Lá na frente um ou dois vultos de pé na calçada. Não fosse a urgência, voltaria dali mesmo. Pensou no que tinha na bolsa. Pensou se conseguiria correr. - Com todo aquele cansaço? Voltaria ou prosseguiria? Seria uma pessoa ou duas? Mudou o lado da rua apertou a mão na bolsa e foi. Antes de se aproximar do perigo, um cachorro latiu fazendo o corpo estremecer. - Puta merda! Como era difícil ter mais de 30 anos e ainda passar por aquilo. Por conta do susto perdera o medo dos vultos. Não eram dois. Eram três. Um homem de pé, uma mulher e uma criança sentados debaixo da manta amarela e vermelha, viu porque ele acendera um isqueiro na hora que ela passava, talvez para visualizar a vítima ( outro puta susto da chama, do rosto malquisto do homem). Hora das pernas! Correu! Correu! Depois olhou para trás e eles continuavam lá. - Obrigada, Deus! Voltou a andar com a respiração pela boca. Veio a avenida larga naquele princípio de madrugada e o breu ia ganhando luzes. Uns jovens saiam de um mesmo lugar. Alguma festa? Não sentiu medo. Prosseguiu até chegar ao apto. Agora sim estava segura. Era naquela manhã que a professora ao seu novo cargo se apresentaria. O próximo passo seria conhecer em melhor hora, a cidade. Ninguém para dizer que a vida de merda estava só no princípio da metade e ela nunca seria mansa.
Marília L Paixão