HOMEM DO LIVRO (BVIW)

 

 

O mundo é cheio de pessoas interessantes que, vistas de perto, dariam bom enredo. Era frequente vê-lo sentado no terceiro banco da praça. Ponto estratégico, de onde conseguia ver a entrada para a Rodoviária. Do lado oposto ficava a lanchonete da Telles. E no meio da praça, no Coreto, os artistas independentes faziam ensaios para suas apresentações. Laércio lia um Romance Histórico. Parecia indiferente aos acontecimentos e ao vai-e-vem dos transeuntes.

 

O discreto leitor, retirava do bolso da camisa, um mini bloco e caneta. Fazia anotações, e retornava para a leitura. Repetia essa ação com certa frequência. Antes do Sol se pôr, ele se dirigia de volta para casa.

 

Era um homem elegante, bom gosto no vestir, e as mulheres mais ousadas trocavam olhares e distribuíam sorrisos para o belo cinquentão. Muito comedido, ele notava as provocações femininas, porém, não correspondia. De certo havia quem o esperasse. 

 

Laércio era figura notável, embora tentasse se fazer invisível. Quando não estava na praça, em dias chuvosos, era visto na Livraria-Café do Shopping. O livro inseparável e os óculos lhe davam, além de charme, aquele ar intelectual.

 

Passaram-se dias, talvez meses, sem que o homem deslumbrante do livro fosse visto. Como não era conhecido, as pessoas sentiam sua falta, mas não comentavam por nem saberem sequer seu nome. Era esfíngico.

 

Dentro do seu escritório na casa onde morava, o leitor dava lugar ao escritor. E ali, xeque-mate, todo mistério era desfeito. O assíduo leitor na verdade estava lendo as pessoas, e criando personagens e histórias. Dos livros que fingia ler às pessoas que lia, tornou-se autor de Best-Sellers.

 

Tema proposto pelo BVIW: VIDA LIDA