Imagem real: Pilar e José
_____________________ SEGUNDA VIDA
Ela era Pilar, uma jornalista da Espanha. Ele era José, escrevia e morava em Lisboa. Num dia qualquer, Pilar passeava por uma livraria. Um título na estante a atraiu: Memorial do Convento. Era de José. Olhou, folheou e levou. Leu, não só aquele livro, mas todos os outros escritos por ele. Por fim, leu a vida de José e se encantou. Telefonou, ele mesmo atendeu. Ela marcou entrevista para o jornal em que trabalhava. Em si, latente, o desejo de estar com ele, poder dizer-lhe o quanto amava sua escrita.
José a recebeu com alegria. Passearam por Lisboa, conversaram, trocaram ideias. Ele era um cavalheiro: no dia seguinte, enviou rosas acompanhadas de carta escrita à mão. Outros encontros, eles cada vez mais juntos. Ela com 36, ele com 63... Os números, em curiosa inversão, cravavam entre os dois uma distância de 28 anos. O amor — irreversível e imperturbável — não permitiu que tolas convenções os separassem.
Pilar e José se casaram. Moraram em Lisboa, depois na ilha de Lanzarote, nas Canárias. Ele escalou todos os degraus da glória literária em publicações de sucesso, premiações, palestras pelo mundo. Foi traduzido em muitos países, difundiu seu pensamento entre os muitos povos do Planeta. Pilar continuou a ler a vida de José, sabendo que era seu esteio e norte. A ela, José passou a dedicar todas as suas obras. Em palavras que nunca esconderam o grande amor da maturidade, ele confessou: Pilar é minha segunda vida.
— De vez em quando, quando lembrares de mim, ponha uma florzinha em cima da pedra, pra eu pensar que ainda estou a ser recordado. — José sabia, a morte mandava avisos. Pilar compreendia. E as cinzas, sob a pedra do jardim, em Lanzarote, ainda escrevem essa linda história de amor.
Tema da semana: Vida Lida (conto)