Academia Joinvilense de Letras

 

O teimoso

O Teimoso

Por se alimentar de pragas que danificam as lavouras, o sapo é um bom parceiro dos agricultores. De olhos saltados, ele anda aos pulos e mete medo em muita gente, apesar de ser praticamente inofensivo.

Outra característica desse animal é a sua teimosia. Quando ele escolhe um cantinho para morar, não adianta enxotá-lo. Ele volta para o mesmo lugar.

Prova que teimosia de sapo não é lenda, aconteceu numa casa dos fundões de Ribeirão da Vargem.

Belo dia, ao varrer o quarto do casal, nona Gigia flagrou um baita sapo debaixo da cama. Aos gritos, ela botou o intruso no olho da rua a vassouradas. De nada adiantou. No dia seguinte ele estava de volta.

E a teima continuou por mais de uma semana. Gigia botava o bicho pra correr, e ele, determinado, não arredava o pé do seu cantinho.

Nessa briga, Gigia descobriu um detalhe surpreendente. O sapo não tinha uma das mãos.

– Santo Cristo, além de teimoso, tens ainda o defeito de ser maneta! – gargalhou a nona.

Numa tarde de chuva fortíssima, com a correnteza do ribeirão já bufando, o sapo foi mais uma vez para debaixo da cama.

Nisso chegaram Francisco, filho de Gigia, e Osmar, um vizinho. Informados das estripulias do intrometido, os dois pegaram o bicho e foram até a atafona das proximidades, onde o jogaram em cima da roda d’água para despachá-lo correnteza abaixo em grande estilo.

Para espanto de Gigia, passados alguns dias o maneta reapareceu debaixo da mesmíssima cama.

Francisco e Osmar jogaram o teimoso mais quatro ou cinco vezes na correnteza do rio. Nada feito, em poucos dias lá estava ele de volta.

Cansado com aquilo tudo, e com pena da vizinha, Osmar então enfiou o comedor de insetos num saco, montou num cavalo e foi até uma fazenda de Ribeirão Brilhante, onde o soltou numa lagoa a uns seis quilômetros do seu cantinho preferido.

Ufa ! Para alívio da nona Gigia, só assim o maneta nunca mais reapareceu pelas bandas da sua cama!

 

Herculano  Vicenzi