BRINCANDO DE SER PRINCESA

   Aquele castelo estilo medieval era o pensamento de Maria, gostaria de estar dentro de um nesses moldes, de preferência vivendo como uma princesa e com todas as mordomias possíveis. Mas estava ali naquele quarto apertado e sem sequer sentir o cheiro do ar puro que lá fora daquele pequeno cômodo existia. Seu Arthur, seu pai, cuidava muito bem dela, dona Mariana também, pois essa menina de apenas doze anos queria ter liberdade, queria se sentir gente como as outras garotas que ela sabia que naquele lugar existiam e eram felizes, mas ela não, ficava trancafiada naquele quarto que não cheirava bem, apesar de todos os cuidados dos pais e de uma acompanhante que lhe fazia sala diariamente. Maria só saía quando ia para a clínica, era portadora de uma doença que lhe roubou a mobilidade e a deixou quase sem o seu raciocínio normal, mas ela garantia que tinha percepção de tudo e que só as vezes esquecia de algo, o que considerava normal. No fundo ela era infeliz.

   O sol beijou aquele rostinho bonito de Maria, do alto do seu castelo medieval ela via a paisagem exuberante e dentro de um longo vestido amarelo com detalhes brancos andava para lá e para cá naquele imenso espaço todo dedicado a si. Era uma princesa que tinha amas ao seu dispor e se empolgava quando via soldados em trajes antigos e com espadas por ali desfilando e fazendo a sua guarda. Sentia-se encantada. Surge então ali o seu pai, o rei Arthur, que lhe oferecia as mãos para cortejá-la e dizer-lhe que estava linda. Convidava-a para entrar para o café da manhã na imensa sala onde empregadas elegantemente vestidas com aventais os recepcionaria, justamente com a rainha Mariana, que também usava um longo vestido azul celeste. Rei Arthur e rainha Mariana ostentavam suas coroas e sorriam para a princesa Maria, que se sentia imensamente feliz.

   A luz do quarto foi apagada, Maria precisava descansar, afinal já havia jantado com ajuda da acompanhante e tinha deixado a cadeira de rodas e se acomodado na cama. Duas lágrimas rolaram pelas suas faces, no entanto ela não deixava transparecer, não queria que a sua infelicidade fosse compartilhada com os demais. O sono viria em seguida, pois mais nada teria para fazer, apenas contar com a presença de Sônia, sua incansável acompanhante que ali dormia também e se dispunha a atendê-la noite e dia, para isso era regiamente bem paga. Antes de dormir Maria e Sônia conversavam um pouco para matar o tempo e aguardar o sono.

   A manhã estava linda e a princesa Maria cismou de cavalgar, um de seus servos selou um cavalo e ela montou com muita facilidade. Já estava acostumada com isso. Queria desfrutar daquela imensidão de terras que pertenciam ao rei Arthur, percorreria léguas, inclusive cruzando a floresta. Ao seu lado dois cavaleiros bem treinados para livrá-la de algum animal feroz que por ventura tentasse atacá-la. A cavalgada durava mais ou menos umas duas horas, quando, cansada, tomava um bom banho e era paparicada pelas amas, que a adoravam, achavam uma gracinha de princesa.

   - Maria, acorde, minha filha - chamava d. Mariana, sua gentil mãe, que avisava sobre a mesa posta para o café da manhã.

- Dormiu demais hoje, filha. A tarde temos médico. Hoje a gente dá uma volta pela cidade. Maria, ainda com sono, perdida em pensamentos e mergulhada em seu mundinho particular, apenas sorria para a mãe. Tomava uma ducha e era levada por Sônia para a sala depois de colocá-la na cadeira de rodas. Ela olhava aquele ambiente como se estivesse a procura de algo que despertasse a sua atenção, porém nada a deslumbrava, nada se comparava ao seu mundo, completamente diferente desse que era real mas não lhe agradava. A tarde ela foi com os pais para a clínica, após alguns exames o médico receitou uma medicação mais forte e conversou reservadamente com os pais, a situação preocupava e ela necessitava de mais atenção no tratamento. Deram uma volta pela cidade, o que faziam sempre depois da consulta, mas Maria parecia desinteressada, nem sequer sorria, o que realmente desejava era chegar logo em casa para se deslocar mentalmente para seu mundo. Nele se sentia bem, nele encontrava o que tanto lhe fazia feliz.

   Os anos se passaram e a princesa Maria completava quinze anos, o castelo foi enfeitado e a festa prometia ser das melhores. O rei Arthur convidou seus amigos de vários castelos da província e ofereceu a filha uma festa que ela nunca imaginava e com muitas atrações. Palhaços, mágicos e magos estavam presentes, comidas e bebidas foram oferecidas para um salão repleto de convidados famosos. Maria estava deslumbrada com tamanha ostentação.

Na hora da valsa ela ficou inquieta, pois não sabia com qual rapaz iria dançar. O rei seu pai então anunciou para que o seu par entrasse deixando-a admirada com ele usando uma máscara. Quando ela viu seu rosto as luzes do castelo todas se apagaram e uma escuridão tomou conta do ambiente.

   Sônia acordou assustada com os gritos de Maria, ela estava completamente fora de si, o que despertou também a atenção dos seus pais que ficaram preocupados. Levada às pressas para atendimento médico a moça não resistiu, já chegou sem vida, justamente no dia que completava quinze anos.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 30/03/2022
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