Eu Não Quero Correr de Você
Só a gente sabe as dores que precisa enfrentar a fim de alcançar um sonho, conquistar uma vitória, viver um amor. Às vezes são coisas simples. Coisas que a maioria das pessoas consegue sem grandes dificuldades. Coisas que, para alguns, de tão simples, tornam-se as mais importantes, especiais e desejáveis. Coisas que machucam ao mesmo tempo em que curam. Coisas que fazem a existência ter um sentido. E todos merecemos tê-las em nossas vidas, desfrutar de seus benefícios, apreciar de seus frescores nos dias quentes. Coisas que arrancam sorrisos.
Lá estava eu. Completamente indefeso. Totalmente inseguro. Aquela moça de cabelos encaracolados e sorriso iluminado me fazia sentir vontade de tentar uma aproximação, encurtar a dolorosa distância, ouvir de perto a sua voz, contemplar de perto o castanho de seus olhos brilhantes. Mas poderia ser perigoso. Sabe quando você tem certeza de uma coisa e ninguém é capaz de mudar a sua opinião? Para mim, o amor era violentamente perigoso. Isso porque ele me destruiu.
Foi antes da moça de cabelos encaracolados. Foi com Júlia. Tudo parecia prazeroso, real, duradouro. Eu a amava e pensava que o sentimento era recíproco. O problema é que nem sempre você será retribuído por aquilo que faz. E não é que tenhamos que fazer as coisas, cuidar do mundo, amar alguém, desejando receber uma gratificação, esperando que algo nos seja devolvido a partir de tudo o que oferecemos. A gente precisa se doar. E doar-se é um ato realmente altruísta. Só que no fundo, quando se trata de amor, quando se trata de uma vida planejada para ter eternamente aquele que é objeto do seu sentimento, o mínimo que se espera é por uma reciprocidade. Às vezes somos enganados. E isso dói.
Eu vivia para Júlia. Apesar da inocência dos vinte anos, eu tinha certeza do que sentia por ela, o quanto gostava da sua companhia e do desejo profundo de concretizar todos aqueles sonhos que, na minha imaginação, sonhávamos juntos. Eu estava rendido às suas mãos. E ela soube se aproveitar disso. Soube se aproveitar da minha boa vontade, das minhas boas intenções, da minha vontade profunda por escrever uma história na qual ela fosse a protagonista por quem eu viveria. Em certas épocas da nossa vida a gente pensa que é assim, que o amor pressupõe que nos deixaremos de lado para privilegiar a outra pessoa. A gente cresce. E entende que isso é um erro.
Júlia me traiu. A traição foi pior porque eu não queria acreditar no que estava bem diante dos meus olhos. Tentaram me alertar, tentaram me fazer enxergar o que era nítido para as outras pessoas, tentaram me fazer entender que todo aquele amor romântico não passava de ilusão. A minha ilusão. Eu queria acreditar na minha verdade. Queria me convencer dos meus sentimentos. Só que eu já estava convencido do que eu sentia. Precisava me convencer de que Júlia sentia nada. Meus olhos tiveram que assistir ao horror da infidelidade para que, então, meu coração se fechasse.
Só que ele se fechou para o mundo.
Quando você coloca muita esperança em algo e por fim descobre que aquilo não passava de uma criação sua, de algo inexistente com um efeito placebo, o tombo pode ser grave. É como se não valesse a pena acreditar. É como se não fizesse o menor sentido cultivar aquele otimismo e aquele senso de esperança que tentam vender por aí. Você confiou. Você lutou por aquilo em que acreditava. Mas a luta foi solitária. Você pensava que tinha alguém ao seu lado, mas no fim das contas descobre que sempre foi você e somente você. E se convence de que será para sempre assim: só você por você mesmo. Seu coração se fecha para as outras pessoas. As boas intenções lhe parecem grandes dissimulações. As palavras doces e suaves soam como o vento de uma tempestade. Não dá mais para acreditar.
E tudo por que no passado, quando você se dispôs a viver o que tantos vivem, você se decepcionou. É por isso que as coisas simples podem ser as mais perigosas. O amor é simples. Está por aí. Disponível a quem o desejar. Mas eu acreditava que ele estava disponível a quem quisesse se arriscar. Para mim o amor não passava disso – um jogo de azar. Em um dia você sai com o bolso cheio, sorrindo abobado, distribuindo presentes. Mas no outro você perde tudo e ainda sai devendo.
Só que a moça de cabelos encaracolados não era como Júlia. Era diferente. Especial. E vê-la rodeada por crianças no parque da praça em frente ao condomínio onde morávamos era um de meus passatempos prediletos. Parecia tão gentil. Parecia tão serena. Parecia tão amável. As crianças ficavam esperando ansiosas pelos finais de tarde quando ela saía na porta de sua casa e gesticulava para que a acompanhassem lhes lançando aquele sorriso encantador. Em cada dia ela organizava uma brincadeira diferente. Jogos, brinquedos, livros. Enfim, a cada final de tarde aquelas crianças tinham o prazer de uma programação especial. Quando aqueles momentos não eram possíveis porque a moça de cabelos encaracolados não pôde se fazer presente, eu era capaz de sentir a mesma frustração que a daquelas crianças tão sedentas por alguém como aquela moça que lhes deva atenção, que as fazia se sentir importantes.
Nossos contatos, apesar de sermos praticamente vizinhos, não passavam de cumprimentos distantes. Eu sabia que ela era solteira, que seus pais moravam em outra cidade e que seu trabalho era como gerente de uma grande loja. Coisas que peguei no ar, ouvindo uma ligação aqui e outra ali. Mas nunca tive coragem de me aproximar, dizer um bom dia decente, ajudá-la a levar para dentro as compras da semana. Eu queria, mas não conseguia. Estava apaixonado, mas não assumia. A única coisa boa era que, ao invés daquelas pessoas confusas que ao negar seus desejos passam a odiar umas às outras, eu me contentava em ficar de longe apenas observando e repetindo para mim mesmo que nada do que eu pudesse sentir me faria um homem feliz.
Só que as coisas mudaram.
Em uma tarde quente, quando o sol começava a desaparecer no final do horizonte, chegando de um dia cansativo do trabalho como contador, passei em frente à praça cheia de crianças saltitantes. Ouvi algo sobre queimada. E alguém dizer “mais um para completar o time”. Não dei muita atenção. Com todo o estresse que eu estava na cabeça por causa de clientes teimosos que pensam que podemos fazer milagre com a miséria de informações que nos dão, nem mesmo a adorável moça de cabelos encaracolados eu notei. Só voltei à realidade quando um garoto de olhos curiosos me puxou pela calça.
— Brinca com a gente? — perguntou afobado.
— Como é? — perguntei confuso, tentando ser simpático com a pobre criança.
— É. Só mais um para completar o time — apontou para a quadra da praça onde crianças ansiosas me olhavam atentas, esperando por uma resposta, pela resposta que gostariam de ouvir. No meio de tantos seres humanos minúsculos, uma adulta: a moça de cabelos encaracolados, que me olhava sorridente gesticulando como se não tivesse nada a ver com aquilo e não pudesse fazer com que me deixassem em paz.
Era só uma queimada.
O que eu poderia perder voltando a ser criança?
— Tudo bem. Vamos lá.
As crianças entraram em polvorosa. Eu acho que nunca animei tanto uma plateia. E também não sabia que meus quase trinta anos já estavam me deixando intolerante com gritos agudos.
Foi um final de dia divertido. Meu time foi o vencedor, claro. Mas naquele dia eu não levaria para casa apenas uma vitória em equipe, eu teria a minha própria vitória pessoal.
— Espere — a moça de cabelos encaracolados disse em alta voz enquanto eu me distanciava conforme as crianças se espalhavam de volta para suas casas —. Desculpe por isso — trazendo consigo a bola que levara e o pacote de giz para as marcações no chão, ela parecia exausta —. Sabe como as crianças são imprevisíveis e teimosas. Você parece ser um homem ocupado.
Ela estava bem diante de mim. A moça de cabelos encaracolados, com seu sorriso gentil e olhos castanhos estava bem na minha frente, falando comigo, doando a mim sua atenção. Se eu pudesse faria o meu coração desacelerar. Não permitiria que minhas pernas bambeassem. Nem deixaria que meus lábios descarados sorrissem com tanta espontaneidade. Mas eu não consegui. Não pude conter as emoções que ela despertava em mim.
— Ah! Não se preocupe. O tio aguenta — “o tio aguenta”? Onde é que eu estava com a cabeça? Ao menos ela riu. Só não sei se por simpatia.
— Você é o vizinho discreto, não é? — ela falou com naturalidade.
— Estou descobrindo agora — respondi acanhado.
— Dizem que você é muito reservado. Quando aquele garoto o convidou para se juntar a nós juro que pensei que você rugiria feito um ogro e assustaria todas elas — sua gargalhada incentivou a minha.
— Eu fico um pouco mais no meu canto. É só isso. Mas não sou nenhum maníaco que assusta criancinhas.
— Estou descobrindo agora — minhas palavras foram repetidas —. Podemos esperar pela sua companhia mais vezes?
— Não sei... Seria uma boa ideia?
— Essas crianças só querem isso: só querem alguém que as veja. Então seria uma ótima ideia!
Ter aceito aquele convite mudou a minha vida.
Dizem que crianças são puras e capazes de sentir o que os adultos não sentem. Se gostavam tanto da moça de cabelos encaracolados cujo nome descobri ser Luara, era porque era alguém que inspirava confiança. Poderia ser um sinal. Talvez eu pudesse me sentir seguro o bastante para me aproximar, conhecê-la e permitir-me ser conhecido.
Os finais de tarde passaram a ser mais agradáveis: de espectador da diversão passei a fazer parte do time daqueles que se divertem. Nós nos tornamos grandes amigos. Luara e eu praticamente contávamos um ao outro nossos maiores segredos. Até que a pandemia chegou. As tardes na praça tiveram que ser substituídas por encontros virtuais. Não era a mesma coisa. Mas ainda assim era inspirador ver aquelas crianças, através do computador, compartilharem com a atenciosa Luara todas as suas inquietações. Talvez eu devesse me permitir àquilo. Talvez eu pudesse confiar em seus ouvidos e declarar as minhas próprias ansiedades. Talvez ela me escutasse, compreendesse o que eu sentia e me desse uma chance de, ao seu lado, tentar uma história diferente. Era isso. Eu precisava deixar o passado em seu devido lugar.
— Será que posso entrar? — ao bater em sua porta ela me atendeu.
— Mas é claro — estava sem máscara, exibindo o prazeroso sorriso.
— Eu não sabia se poderia ser uma boa ideia — pela primeira vez eu entrava em seu espaço, tudo parecia minuciosamente organizado, transmitia uma paz e uma segurança que não encontrei em outros lugares.
— Deixe disso. Somos pessoas responsáveis. Fique à vontade.
— Na verdade é rápido. Não vou tomar muito do seu tempo.
— E o que seria? — ela me observava com atenção —. Você parece tenso.
— É... — forcei um sorriso —. Estou um pouquinho.
— Tire a máscara — ela foi até a cozinha e voltou com um copo d’água —. Beba. Vai ajudar a relaxar.
— Obrigado — segui suas recomendações, mas meu coração continuava angustiado.
— E, então...
— Bom... Eu... Eu quero dizer que... — as palavras não saíam, e aqueles olhos brilhantes me intimidavam.
— Talvez isso ajude — ela se aproximou —. Se eu estiver certa, isso vai ajudar — e me beijou.
Por alguns segundos eu fui levado para longe. Por alguns segundos eu estive distante de toda a realidade que me assombrava. Por alguns segundos eu me senti o homem mais corajoso do mundo. Por alguns segundos eu pude saborear o viciante sabor daquele beijo. Por alguns segundos o amor sussurrou em meu ouvido e me fez ouvir os seus sinais. Por alguns segundos...
Só que os segundos se dissiparam.
Fiquei atônito. Sem reação. Sem resposta.
Dei às costas.
No meio da madrugada fiz minhas malas. Coloquei tudo no carro. E parti rumo ao sítio da minha família. Um lugar distante da civilização, onde eu ficaria incomunicável, poderia repetir em minha mente aquela cena e então decidir o que fazer: continuar em segurança ou me arriscar ao engano outra vez.
Foram cinco dias de solidão e silêncio. Foram cinco dias com os meus próprios pensamentos. Foram cinco dias pensando em cenas alternativas para a minha própria história. E se eu escolhesse me proteger? E se eu me privasse de ter contato com as outras pessoas? Estaria para sempre seguro. Nunca mais me enganariam como Júlia me enganou. Nunca mais dilacerariam o meu coração como um dia o fizeram. Nunca mais teriam nas mãos os meus sentimentos nem poderiam brincar com eles como bem entendessem. Eu nunca mais sangraria. Nunca mais sentiria um vazio opressivo dentro de mim. Nunca mais olharia para o espelho sentindo vergonha por ter sido tão ingênuo.
Mas também não teria um futuro. Que vida eu viveria? Iria mesmo me contentar com horas de trabalho duro e momentos de extremo silêncio quando voltasse para casa? Iria mesmo resumir minhas noites a programas televisivos pacatos e sem sentido? Assumiria a personagem que pensavam que eu era? A de um ogro insensível que assusta crianças? Eu não poderia ser chamado de pai. Eu não poderia ensinar aos meus filhos que não se brinca com os sentimentos alheios. Eu não poderia educá-los para que, no futuro, fossem o motivo real e sincero do sorriso e da felicidade de alguém. Eu não poderia olhar para o lado e ser grato por ter construído uma história na companhia de alguém especial. Eu não teria a sorte de ter um morador em meu coração, não construiria morada no coração de alguém. Eu não teria a chance de sentir a única coisa que faz a vida valer a pena – o amor. Eu não amaria outra pessoa. E nem amaria a mim mesmo por ter dado às costas à minha chance de ser feliz.
Ninguém me atendia. Seu telefone estava na caixa-postal. O carro não estava na garagem. Luara também parecia ter saído do mapa.
— Quer falar com a Luara? — uma das senhoras que moravam no condomínio se aproximou.
— Acho que não está em casa.
— Ela está internada — suspirando com pesar, a senhora continuou a andar.
— Espere — aproximei-me —. Como assim, internada?
— Ah! Meu filho. A vida é imprevisível — Luara era querida por ali, é claro que estariam comovidos pela sua situação. Mas que situação seria? —. Esse vírus esquisito levou ela de nós.
Fiquei parado vendo a senhora corcunda desaparecer.
Por que aquilo estava acontecendo? Justo agora. Agora que eu pude superar a minha insegurança. Agora que eu pude entender que viver é seguir em frente apesar de tudo aquilo que nos puxa para trás. Que viver é ter força o bastante para deixar no passado aquilo que lhe pertence e construir um belo futuro.
Fui ao hospital. Apresentei-me como um amigo. As notícias não eram animadoras. Luara lutava pela própria vida.
Os dias seguintes foram dias de arrependimento e desolação. Por que não fui atrás antes? Por que não aproveitei aqueles finais de tarde para abrir o meu coração e desnudar a minha alma? Por que dei as costas quando na verdade deveria ter ficado e planejado um futuro? Por que demorei tanto para entender que Júlia na verdade foi apenas um experimento, uma preparação para que eu entendesse o que era amar, apenas para que eu ficasse pronto para quem realmente tinha o direito de possuir o meu coração? Por que demoramos tanto para enxergar o que está bem diante dos nossos olhos?
A luta fora vencida. E Luara pôde vencê-la.
Só que ao invés de voltar para casa, ela fora levada pelos pais à cidade onde moravam. Era compreensível. Ela precisaria de cuidados especiais até que ficasse completamente recuperada. Eu só não sabia que no meio da lista de coisas a fazer para uma boa recuperação estava o item “não falar com Cauã”.
Tudo o que tive foi silêncio.
Eu merecia aquilo.
Em um belo final de tarde, voltando para casa depois de mais um dia de pura contabilidade, senti o meu coração se agitar por ver na garagem de Luara o seu carro. Pelo movimento, ela havia sido bem recebida pelos vizinhos. Até mesmo as crianças, com máscaras coloridas e marcantes, foram visitá-la e agradecer por estarem tendo a oportunidade do reencontro. Pensei em me aproximar, mas me contive. Fui para casa. Tomei meu banho. Ajeitei a comida e arrumei-me como se fosse para um compromisso importante. E na verdade era.
Ela me atendeu.
O olhar curioso deu lugar a um olhar confuso.
Eu precisava concertar as coisas.
— Oi — rompi o silêncio.
— Oi — ela respondeu arisca.
— Como está?
— Melhorando.
— Fizeram festa pelo seu retorno... Também estou feliz por isso.
— Obrigada...
— De nada.
Silêncio constrangedor.
Os grilos soando.
— Quer entrar? — ela perguntou.
— Na verdade não — suspirei —. Na verdade eu queria convidá-la para sair... Não será muito longe. Você só vai precisar andar por duas calçadas — apontei para a minha casa —. Vim buscá-la.
Ela sorriu.
E eu relaxei.
— Fique à vontade — abri a porta e gesticulei para que ela entrasse primeiro —. Não sei se sou tão organizado quanto você — vi os seus olhos rondarem o ambiente —. Mas eu tento...
— Aprecia artes plásticas? — estava se referindo aos quadros nas paredes.
— Nada como estar rodeado por belas obras, não é? Cada uma com um significado de seu próprio autor. Mas cada uma nos incentiva a dar o nosso próprio significado — tirei do forno a lasanha que havia preparado, coloquei-a sobre a mesa.
— Hummm. O cheiro está bom — ela elogiou.
— Espero que o sabor também.
— Cauã...
— Pode falar.
— Perdoe-me.
— Perdoar você? — encarei-a.
— Eu estava doente e... Bem... Você está bem?
— Não tive sintomas. Nadinha. Nunca me senti tão saudável.
— De qualquer forma, eu quero que me desculpe, não devia ter...
— Me beijado?
— É... — seu rosto ruborizou —. Isso. Aquele beijo... Aquele beijo pode ter sido...
— A coisa mais adorável da sua vida? — interrompi-a
— Eu não sei... Foi tão confuso... Você...
— Eu agi como um idiota — aproximei-me —. A verdade é que eu queria que aquele beijo tivesse acontecido há muito tempo. Por muitas tardes eu fiquei assistindo você brincar com aquelas crianças e imaginando a mãe incrível que eu poderia dar aos meus filhos. Por muitas tardes eu fiquei imaginando como seria olhar para você todas as manhãs e poder agradecer por tê-la ao meu lado. Mas o meu medo sempre me paralisou. Não quero me aprofundar, mas em minha defesa eu preciso dizer que amei alguém no passado. Amei ao ponto de doer. E doeu ainda mais quando eu soube que aquele amor não passava de uma criação da minha cabeça. Ele não existia de verdade. E isso me destruiu. Eu não queria mais amar alguém. Eu prometi a mim mesmo que jamais amaria. Que não cometeria esse erro. Aí você apareceu. Apareceu e colocou em dúvida todas as minhas certezas. Apareceu e me fez perceber o quanto eu ainda queria viver o que não pude. E quando você me beijou eu queria ter ficado, queria ter beijado mais, queria que aquela noite marcasse um recomeço para mim. Só que eu só consegui correr. Correr de mim mesmo. Do meu desejo. Correr de você. E foi um erro. Eu não quero correr de você. Se for para correr, eu quero correr com você. Eu quero viver com você.
Ela me beijou.
Com os olhos marejados e os lábios desenhando um sorriso largo, ela me beijou.
Afastou-se ainda sorridente.
— Se quiser correr, agora é a hora — falou.
— Eu nunca mais vou correr — tornei a beijá-la como se o mundo tivesse parado apenas para que nós pudéssemos sentir um ao outro.
(Conto por @Amilton.Jnior)