O homem da face sombria - O PRÓLOGO DA MÁFIA

O PRÓLOGO DA MÁFIA.

Itália, século XIX no Reino das duas Sicília. O ano era 1812, na transição do feudalismo para o capitalismo, onde os nobres possuíam seus próprios exércitos e os proprietários de terras começavam a alugar suas terras para outras pessoas. Após a Revolução de 1848, a região da Sicília cai em meio ao caos. Os primeiros mafiosos, se separam, formando pequenos grupos de bandidos, oferecendo suas armas à revolta, na intenção de criar chances para queimar arquivos da polícia, provas e matar policiais e delatores durante a desordem em que se encontrava a região. Porém um novo governo se estabeleceu em Roma e a máfia, não foi capaz de executar essas ações, começando assim a aperfeiçoar seus métodos e técnicas ao longo da segunda metade do século XIX.

Em1860, o novo Estado italiano unificado apossou-se da Sicília e dos Estados Papais, onde os Papas passaram a ficar hostis contra o Estado.

Em 1870, o Papa Pio IX, nascido com o nome de Giovanni Maria Mastai-Ferretti, se declarou prejudicado pelo Estado italiano e passou a incitar aos católicos que recusassem a cooperar com o Estado. A Sicília era demasiadamente católica e os atritos entre a Igreja e o Estado resultaram no fortalecimento das gangues criminosas na Sicília que diziam aos cidadãos que cooperar com a polícia era uma atividade não católica. Foi após duas décadas de 1860 que o termo Máfia chegou ao conhecimento público da época.

O primeiro relato documentado, legalmente oficial da máfia, foi no final do século XIX, quando o Dr. Galati foi submetido a ameaças de violência de um mafioso local, que estava tentando expulsar Galati de suas terras e tomar conta delas. O roubo de gado, a cobrança de taxas por proteção e o suborno de oficiais do Estado eram as fontes de renda e proteção da Máfia.

Durante o período fascista na Itália, um homem chamado, Cesare Mori, prefeito de Palermo, utilizava de sua influência especial, para perseguir a Máfia, forçando muitos membros a fugir para outros países ou arriscar-se a ir para a cadeia. Muitos desses mafiosos foram aos Estados Unidos, entre eles um em especial chamado Joseph Bonanno, que dominou a Máfia na América. Quando Mori passou a perseguir os mafiosos envolvidos na hierarquia fascista, Bonanno foi derrubado e as autoridades fascistas declararam que a Máfia havia sido derrotada. Apesar do enfraquecimento da Máfia, ela não foi derrotada como haviam divulgado. Mesmo com a queda de seus integrantes, Mussolini, o pai do Fascismo, tinha seus admiradores na Máfia de Nova Iorque, sendo venerado por Vito Genovese. Mais tarde a Máfia, ajudou os americanos a depor Mussolini e como consequência acabar com o Fascismo na Itália.

A Máfia voltou a recuperar seu poder na Itália após a rendição do país na segunda Guerra Mundial com a ocupação americana. Os Estados Unidos usaram conexões italianas de mafiosos estabelecidos na América, durante a invasão da Itália e da Sicília em 1943. Lucky Luciano, Vito Genovese e outros mafiosos, que foram capturados neste período nos Estados Unidos, forneceram informações ao exército americano e usaram suas influências para facilitar o caminho das tropas. Luciano usou seu controle sobre os portos e previu a sabotagem de agentes das forças do Eixo.

Luciano teve permissão para comandar sua rede criminosa a partir de sua cela em troca de seu apoio. Depois da guerra, Luciano foi solto e deportado para a Itália, onde ele continuou sua carreira criminosa. Ele foi à Sicília em 1946 para continuar suas atividades ilegais, onde se aliou a Máfia da Córsega desenvolvendo uma rede internacional de tráfico de heroína, abastecida pela Turquia, conhecida como Conexão Francesa.

Quando a Turquia passou a eliminar sua produção de ópio, ele usou suas conexões com a Córsega para iniciar um diálogo com os mafiosos expatriados no Vietnã do Sul. Em colaboração com os chefões da máfia americana, incluindo Santo Trafficante Jr., Luciano e seus sucessores se beneficiaram das condições caóticas do sudeste asiático, resultado da Guerra do Vietnã para estabelecer uma base de abastecimento e distribuição que em breve começaria a fornecer uma enorme quantidade de heroína aos Estados Unidos, Austrália e outros países.

A Segunda Guerra da Máfia no início dos anos 1980, foi um conflito dentro da própria Máfia, que levou aos assassinatos de vários políticos, chefes de polícia e juízes.

Salvatore Riina e sua facção Corleonesi venceram esta guerra. Os novos mafiosos deram prioridade aos crimes do colarinho branco com a perda dos crimes de extorsão.

Em janeiro de 1993, após estar envolvido no assassinato de dois promotores que levaram à prisão e julgamento de centenas de mafiosos em 1992, Riina foi preso.

Os Corleonesi se vingariam, realizando uma campanha de terror, bombardeando pontos turísticos na Itália, em Florença, Milão, Laterano e em Roma, que deixou dez mortos e noventa e três feridos, causando danos ao patrimônio histórico.

Bernardo Provenzano assumiu como chefão dos Corleonesi, substituindo o terror pelo silêncio, que ficou conhecida como pax mafiosi. Esta campanha permitiu que a Máfia retomasse o poder que já possuía. Ele foi preso em 2006, após quarenta e três anos na ativa.

Após a prisão de Provenzano, Don Denaro assumiu o comando da máfia se tornando o Capo da família. Por ele passam todas as decisões e para ele devem chegar uma porcentagem dos lucros de todas as operações de seus membros. Don Denaro estendeu suas teias a diversos países, inclusive o Brasil, onde seu sobrinho é um Caporegime que controla as ações da família na região sul e comanda parte dos cassinos uruguaios.

Denaro tem uma única filha que possui o posto de Sottocapo, um subchefe da família que, assume o lugar do pai, quando este está ausente e serve de intermediária entre seu pai e os membros inferiores da família. Ela também tem o posto de Concigliere, sendo uma conselheira de Don Denaro, por sua experiência em resolver conflitos e intermediar negociações, que geram muito lucro aos cofres da família.

Depois de muito investigar, mais de seis meses se passaram desde as prisões que envolveram as mortes de Ramos e do professor Albuquerque, consegui juntamente com Joey chegar até a Sottocapo e ao Caporegime. Nunca em meus pensamentos eu poderia prever que tais nomes ligados a mim, seriam motivos de estranheza, contudo descobri que “C” era na verdade Caroline Messina Denaro, minha ex-namorada e quase noiva, que havia voltado a Itália onde moravam seus familiares, para resolver assuntos de família. Fiquei em choque ao elucidar o nome da letra no bilhete.

Contudo seu primo o sobrinho de Don Denaro que é seu Caporegime no Brasil, se autointitula o “Barão”, nome vinculado a ligação parental da gata, sendo esse seu pai adotivo. Alguém que eu desprezava a existência, pelo fato de tentar matar Tamara. Meu alvo em potencial seria ele de hoje em diante, mas já havia matado muita gente até este momento e a gata ainda estava longe. Preciso de mais informações sobre Carol, a agora Subchefe da máfia italiana, que se meteu em minha vida e em minhas ações, assim como em minha investigação mais demorada.

Joey estava tão surpresa quanto eu. Assim que pude falei da descoberta a Lancaster e a delegada Bárbara.

Esse prólogo da Máfia está sem mortes, mas a história por trás dela está regada de maldade e injustiça. As feições da face mortal desse perigoso jogo estão me levando a terras não exploradas por pessoas comuns como Joey e eu. O futuro é incerto e não sabemos o que nos aguarda, no entanto o passado podemos analisar e ver onde tudo começou.

Lembro de ter matado um casal de idosos e suas criança imersas no pecado, depois disso estava solitário e Carol me pagou um café. Marcamos de nos encontrar e foi amor à primeira vista, mas pensando agora a história que ela me contou, é sobre a morte dos avós que ela não gostava. Eram os idosos que eu matei. Ela sabia dos assassinatos, minhas mortes não eram motivo para a máfia se envolver comigo, a menos que eu tenha matado alguém próximo a eles, ou que tenham tido negócios. Então aquele casal, também trabalhava para os Denaro e que fez a própria Sottocapo intervir, mas ela acabou por se envolver demais. Arrisco a dizer que as intenções dela eram reais e que o nosso casamento seria inevitável, caso ela não tivesse que retornar a Itália. Então Tamara entrou em minha vida. Carol sabia que eu me envolvendo com os bandidos eu iria julgá-los e tirá-los do caminho.

As investigações de Tamara devem ter chegado próximas ao Barão. A gata era muito ativa com a Bárbara e ficou escancarado de que a Tamara não havia visto a gata pessoalmente, mas a desprezava quando a conheceu. Isso porque Tamara sabia da existência de um núcleo mafioso em Novo Hamburgo. Tamara certa vez disse que existe muita coisa no submundo do crime da cidade que se eu descobrisse, poderia me custar a vida. Era disso que ela falava. Ela deve ter investigado a fundo muita gente da elite, muitos empresários ligados as ações da família Denaro. Isso levou a Carol e o Barão a agir contra ela, sem saberem que eu estaria lá. Tão logo Carol soube que eu havia matado um de seus capangas, deu conta de eliminar Tamara de outra forma que não me atingisse. Orquestrou para que ela fosse embora da minha vida de forma definitiva, porém com a certeza de que eu iria continuar o trabalho. Está claro para mim e a Joey também que ela me quer por perto, mas Joey não sabe o que eu faço quando ela não está por perto.

A gata sabe de algo, ela sabe que eu já matei e não se importa. Ela também deve saber de mim e Carol, mesmo assim ela arrisca seu posto de filha do Barão para se envolver amorosamente comigo. Creio que ela não saiba do meu elo com a Carol. Talvez nem ligue para isso, já que declarou que seu amor supera todas as adversidades que a vida possa oferecer para nos afastar.

Sinto falta da gata, contudo sinto que um encontro com o Barão e a Caroline está próximo. Aguardo meu próximo caso em casa junto a Joey, que estuda casos arquivados em busca de contatos com novos clientes. Lancaster havia nos fornecidos uma dúzia destes casos. Minha cabeça estava fora da cidade, mais precisamente na Sicília, lar da família Denaro. Creio que a vampira não possa me dar as respostas que venho buscando. Acho que a esta altura do jogo, somente alguém ligado a máfia dos Denaro poderia me fornecer o que eu quero.

Meu viajante das trevas se ergue do inferno de minhas entranhas gélidas, aborrecido que Tamara estava longe por nossa culpa. Não quer perder Joey e nenhum dos nossos amigos. Ele precisa desse jogo de gato e rato para se manter vivo em mim. E eu mais do que antes, quero continuar nesse jogo até o fim. Sozinho não tenho forças para desmantelar a Máfia no sul do Brasil. Espero que Bárbara possa me ajudar depois de tudo o que eu direi a ela.

Uma semana se passou, Joey e eu conseguimos uma pista em um dos casos arquivados. Era o roubo de um cofre na casa de um empresário rico da cidade. Havia desaparecido joias, dinheiro e um pedaço de papel que segundo seu dono tinha um valor inestimável por se tratar da carta do diabo.

Esse foi o nome dado a uma carta deixada por Jack, o Estripador, um dos maiores seriais killers de todos os tempos. A mensagem foi enviada à polícia de Londres em 1888, junto de um pedaço de rim humano. O documento era considerado a única comunicação oficial do criminoso. O problema foi que a própria polícia perdeu tanto a carta quanto o pedaço do rim.

Ninguém sabia onde estava a carta do diabo até seu dono denunciar o desaparecimento do documento lendário de um de seus cofres. O documento poderia ser uma farsa, mesmo assim a história era empolgante. Decidimos levar a pista que encontramos até a central de polícia. Havíamos encontrado uma antiga amante do empresário do ramo calçadista Raul Jakobs, dono dos objetos furtados. Ela estava com um dos colares sumidos na época. Na hora quando fomos falar com ela, não nos demos conta da peça cara em seu pescoço, porém ao rever as fotos dos itens tiradas por Jakobs, identificamos a peça. Como não sabemos se era uma peça original, não podemos acusá-la.

Passamos as informações para Lancaster e fomos para casa aguardar um mandado para a casa da amante de Jakobs. Quando chegamos, a casa estava aberta, algumas peças reviradas e o arquivo do caso da carta do diabo faltando. Alguém já estava sabendo da investigação. Entramos em contato com o senhor Raul. Ele nos confirmou com convicção de que não havia comentado o caso a ninguém. Então deduzimos que sua amante Fabiane de Azevedo estava envolvida. Chamamos no mesmo ato Lancaster e a delegada Bárbara. Fizemos a ocorrência de furto, contudo sem pistas e sem digitais, não poderíamos fazer muita coisa a não ser esperar o mandado. Este roubo havia ocorrido a sete meses. Nessa época estávamos todos concentrados no caso do estudo em branco e alguns casos menos importantes foram deixados de lado. Eu e Joey começamos a ligar os pontos. Se este documento for real ele é de valor histórico, seria inestimável. O mercado negro tem interesse nele. Quem rouba obras de arte para repassar ao mercado negro nesta cidade a não ser a máfia dos Denaro? Sim era a resposta mais óbvia.

Passados dois dias o mandado para a casa de Fabiane foi emitido. Todos foram para lá incluindo eu e a Joey. Joey estava nervosa porque era a primeira vez desde que saiu da polícia que iria em uma busca e apreensão oficial. Ela segurou minha mão na viatura e disse.

- Obrigada Ben, por fazer eu me sentir útil para a sociedade novamente.

Eu apertei sua mão e agradeci suas palavras com um profundo sorriso no rosto. Pude ver no espelho do carro a Bárbara nos olhando, admirando com certa inveja nossa cena

Chegando no local a casa estava fechada. Estouraram o portão e arrombaram a porta da residência. A casa estava revirada assim como a minha e Fabiane enrolada em um lençol com a boca amordaçada. As joias e todo o dinheiro estavam numa caixa. Dentro da caixa estava um bilhete com letra similar a das cartas deixadas no caso das mortes do estudo em branco. O recado dizia. “Ao meu detetive favorito, tudo que foi roubado do Senhor Jakobs, exceto a carta do diabo. A carta foi roubada em 1993 em Londres. Vinha sendo roubada desde 1888. Valores foram pagos a nossa família para que ela retornasse à polícia Londrina. Sua gata sabe. Com amor C”.

Estávamos perto de achar as joias do Senhor Jakobs, mas o documento da carta do diabo, já não estava no Brasil a meses. A carta dizia, “a gata sabe”, então havia sido a gata no último serviço, antes de deixar os negócios da família para se juntar a mim. Bárbara decidiu devolver os pertences ao Senhor Jakobs e passou as informações do roubo do documento de 1993 a polícia federal que iria investigar e levar até as autoridades competentes o Senhor Raul Jakobs para esclarecer tudo. Em contato com a polícia Britânica, fomos informados que um resgate de milhões de Euros foi pago pelo documento perdido a mais de um século e que por ter um valor inestimável, ele será exposto no museu Britânico British Museum, para que todos possam apreciar a grafia de Jack o Estripador.

Perdido nessa trama de mentiras

Nessa rede de intrigas

Tua estrada é sem fim

Tua existência é suja

Mais uma carta

Uma aposta

Um tiro como resposta

Treze cigarros jogados ao chão

Cinco garrafas quebradas na mão

Tarde demais, tarde demais

Sete corpos deixados para trás

Foi longe demais, longe demais

Dezessete vidas que seguem sem paz

Por ruas desertas

Cantando pneus

Enredos que não são teus

São teu filme em preto-e-branco

Manchados de sangue, manchados de espanto

Manchados de cifras

Mas aonde vai?

Vão te encontrar

Calma, calma...!

Vão assassinar a tua alma

“Mafioso”. Poema de Fernanda Soares

Ubiratã Hanauer
Enviado por Ubiratã Hanauer em 14/03/2022
Reeditado em 12/04/2024
Código do texto: T7472530
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