O homem da face sombria - O PERIGOSO JOGO DA MORTE

O PERIGOSO JOGO DA MORTE.

Pálida e inerte é a minha mente quando volto a pensar que minha vida é realmente o inferno em que todos acham que eu estou.

Dois anos se passaram desde que assassinei minha última presa.

Meus pensamentos sublimes de como poderia ser a minha vida daquele dia em diante caíram por água baixo, pois aqui nesta terra sem lei cheia de abusos e absurdos reina apenas o silencioso jogo da morte.

Os fatos narrados a seguir são verídicos e assim eu os irei contar.

Olhava meu reflexo pálido no espelho, sentia meu estomago podre queimando. Meu viajante das trevas vê a nós como um assassino. Todas as suas mortes perfeitamente planejadas. Deveríamos abrir as malas de pedras? Ou desenterrar os mortos? Deveríamos apagar o fogo da fúria e egoísmo que habita dentro de nós? Não fujo daquilo que somos, somos um assassino, um monstro, sem escrúpulos, frio como as pedras de gelo da mais alta montanha, mas nós estamos saciados agora, não estamos? Não! Queremos mais, como vampiros atrás de sangue em uma noite escura. Então o que estamos esperando? Vejo em nossa volta que, há um mundo cheio de pessoas que, não fariam falta a ninguém, vivendo atrás de uma árvore, ou em um prédio abandonado, quem sabe em alguma calçada em uma rua escura? Que se danem as promessas de não matar. Promessa a mortos não valem absolutamente nada. Mortos não assinam contratos e nem se importam, eles não têm sentimentos e nem remorso. São apenas carne podre embaixo da terra esperando ser devorados pelos vermes que, existem dentro deles mesmos. Você só se importa com você mesmo, sem perceber que somos todos iguais, aliás, somos a mesma pessoa apenas com ideias e corpos diferentes. Sentimos as mesmas coisas, a mesma fúria, o mesmo ódio, a mesma arrogância e egoísmo, nosso egocentrismo apenas nos torna mais iguais e nos deixa mais forte. Apenas mais uma morte. Quem eu devo matar? Talvez a pessoa mais valiosa da minha vida.

Houve um tempo silencioso que eu não pensei em mais nada, a não ser naquelas palavras. Matar a pessoa mais valiosa de todas as pessoas da minha vida. Quem seria?

Saio então atordoado, sem rumo ou direção. Quero encontrar algum sentido para isso tudo. Seria eu realmente louco, mas se estou raciocinando sobre o fato ocorrido eu não estaria tão insano assim.

Vaguei até anoitecer na cidade e as estrelas apareciam lindamente no céu, a lua cheia se erguia e eu confuso, alheio a toda a beleza da noite, só pensava em parar e matar alguém, como um lobisomem atrás de uma presa fácil, desci pelo beco do campo do bairro liberdade da Rua Rio Negro e fui em direção ao metrô. Continuei até onde o arroio cruza as pontes, entrei mato adentro, pois sabia que ali muitos viciados vinham passar a noite, me descuidei um pouco com a movimentação da rua, mas acabei despistando no meio do mato. Andei cerca de vinte metros até encontrar um bêbado já idoso, enrolado em panos velhos tentando se esquentar depois de cair duro por conta da bebida. Havia uma fogueira acesa ao seu lado e muitas bitucas de cigarro. Nunca fui piromaníaco, no entanto aquele era um bom momento para me saciar até descobrir quem eu devia matar. Meu viajante das trevas começou a cantar em minha cabeça, eu respirava fundo tentando não ouvir.

Tudo em vão, peguei um estilete que guardava para casos urgentes e cortei a garganta dele, evitando que gritasse, depois peguei a bebida do velho e joguei nos cobertores onde ele sufocava com seu próprio sangue, peguei um galho seco e pus fogo, joguei o galho em chamas em cima do bêbado coberto pelo cobertor e calmamente vi seu rosto ficando pálido.

Ele ainda teve tempo de segurar as macegas do mato e se arrastar por uns dois metros antes que fogo tomasse por completo o corpo, como não conseguia gritar acabou por desmaiar e então joguei o resto do seu whisky barato em cima dele junto com a garrafa para o fogo aumentar e criar uma linda chama laranja. O odor de carne humana queimando me embrulhou o estomago, porém, meu viajante das trevas estava saciado naquela noite, no entanto ainda estava lá, gritando auto em meus sonhos e delírios dizendo, mate-a.

Até onde eu iria aguentar, até quando fugiria da polícia antes de me pegarem. Até agora nada aconteceu, a polícia disse que o velho morreu por ter se rolado nos cobertores dando a entender que o bêbado ateou fogo nele mesmo, a carne derretida acabou fazendo com que o ferimento ficasse escondido e o corpo ficasse sem identificação.

Porém eu ainda teria que matar alguém que eu não sabia quem era.

Maldita poesia chamada amor

Deixa-nos num mar de desolação angustiado.

Transforma nosso presente e arruína nosso futuro

E nos arremete sem piedade ao passado

Maldita poesia chamada amor

Que nos arranca do peito todo nosso carinho

Que nos atira num abismo sem glorias

E que despedaça para sempre nosso destino.

Maldita poesia chamada amor

Quero que sem ela siga a minha vida sem sorte

Que sem mim ponham um fim neste mundo

E no fim do mundo achar no amor a própria morte.

Havia duas coisas perturbando minha mente, a forma como agi impulsivamente para matar aquele mendigo apenas por matar. E se alguém havia visto?

Havia uma casa com luzes acesas, não poderia correr riscos, mas me descuidei. Agora teria que me livrar de mais gente, pois, nunca deixo vestígios.

Precisava agir novamente e precisava ser rápido, não podia correr o risco de alguma pessoa ter me visto embrenhando nas macegas do arroio em direção ao local onde queimei aquele mendigo.

Devia sumir com os rastros e isso quer dizer matar mais pessoas e dar sumiço aos corpos delas para sempre.

Não havia chego a noite e eu já estava decidido de como fazer para entrar na casa, estudei durante o dia até o início da madrugada para ter certeza de quantas pessoas eram e planejei de forma que parecesse um acidente.

A noite parecia promissora, não havia lua e a claridade das estrelas se escondia atrás de densas nuvens negras que pairavam rápidas no céu.

O frio gelado do vento cortante, quebrava meus lábios e até mesmo os cães estavam encolhidos do frio.

Na casa havia apenas um casal de idosos e parecia não haver vizinhos, pois as casas ao lado não tinham movimentações de pessoas à tarde inteira e seus pátios estavam com aspecto de abandono, com suas gramas crescidas e o mato já tomando conta delas.

Senhor não me puna na vossa cólera, nem me castigais no vosso furor. Porque me cravaram em mim os vossos dardos, e sobre mim carregou a vossa mão.

Não há parte sã em minha carne por causa da vossa indignação, nenhum remorso nos meus ossos por causa dos meus pecados, porque ultrapassam a minha cabeça as minhas inquietudes e a esmaga como uma carga pesada a minha mente.

Infectas e supurantes são as minhas feridas, por causa de minha loucura. Extremamente abatido e em caminhos tortos, todos os dias ando em luto, pois meus flancos estão inteiramente contaminados e não há parte alguma sã em minha carne.

Hoje em dia não representa nada querer distinguir o certo do errado e para mim isso nem importa, pois somos todos pecadores.

Ainda me lembro muito bem daqueles dias de tortura.

Seria fácil liquidar aquela família.

Ódio e revolta penumbravam a minha mente naquele momento em que resistia bravamente contra meu próprio ser, vaguei um tempo solitário refletindo o que fazer enquanto tentava me manter longe daquela casa.

Por volta das quatro da tarde ao passar diante da igreja da cidade vi o casal de idosos saindo dela acompanhado de duas crianças, uma negra e uma de pele clara, que entraram em seu carro aos prantos. Cheguei mais perto, mas não pude ver nada.

Entrei então na igreja e avistei o padre conversando com algumas meninas da catequese, me sentei num banco próximo e passei a fingir uma reza baixa. Pude escutar o padre dizendo que aquelas meninas iriam servir a Deus, enquanto outras, que não queriam ir com o anjo do senhor, voltariam para as suas casas ao lado do demônio.

Retornei para rua à medida que meu sangue fervia como aço fundido, estava eu horrorizado, um padre aliciador de menores, vendendo meninas inocentes para o tráfico internacional de crianças.

Minha loucura chegou ao ponto de matar aquele maldito padre diante de todos que estavam rezando naquele momento na igreja, mas minha missão era outra, minha honra só seria lavada depois que eliminasse de vez aquele casal, no entanto as duas crianças se estiverem na casa pelo bem maior da justiça humana também deverão ser sacrificadas.

Como Judas após um ritual de magia negra, daria trinta moedas de ouro em troca da cabeça daquele padre.

Voltei na igreja e lá permaneci até a hora da missa acabar e resolvi seguir o padre até sua residência. Que absurdo, um padre aliciador de menores e o que era pior vendia as crianças órfãs para estranhos que frequentavam a igreja.

Ele saiu a pé da igreja São Luís no centro de Novo Hamburgo e foi em direção a rodoviária velha, acendeu seu cigarro e dobrou na Avenida Nações Unidas em direção ao colégio Pio XII, continuou reto e dobrou a direita na segunda rua. Sua casa ficava próximo ao centro e seria naquele instante em que eu o mataria. Sua casa era uma residência bem humilde sem forro e com janelas podres próximas a calçada.

A lua já estava se erguendo no céu quando eu desliguei a chave geral da energia elétrica da casa do padre maldito e saí de perto de sua residência de maneira que ainda podia vê-lo.

Ele saiu e ligou a chave de luz, voltei meia hora depois e desliguei novamente.

Ele voltou à rua enquanto vestia minhas luvas cirúrgicas e pulava o muro dos fundos da casa e entrava pela janela sem ser visto pelos vizinhos. Pequei a faca que eu tinha e me escondi embaixo da cama do quarto até ele dormir.

Era por volta das duas da manhã quando eu saí debaixo da cama e fiquei ao lado da cabeceira por alguns segundos. Mate-o disse a mim mesmo meu viajante das trevas, então eu cortei a garganta do padre, ele sufocou um pouco então eu disse a ele bem perto de seu ouvido para que ele pudesse prestar atenção em minhas palavras.

- Olá! Deus me enviou para tirar sua vida. Você está em dívida com ele e ele quer que você pague.

O padre maldito ainda tentou pedir ajuda, mas foi em vão, pois o sangue estava enchendo sua garganta, ele não podia fazer nada além de agonizar e esperar pela morte.

Alguns minutos depois ele enfim morreu, deixei o padre nu e escrevi em seu peito com a faca “aliciador de menores”, o colocando na posição de cristo. Fui até a garagem pelo acesso interno da casa e peguei um serrote enferrujado que existia no local.

Voltei até o quarto e cortei a cabeça dele e acreditem, ainda saía mais sangue daquele desgraçado. Coloquei a cabeça entre as pernas dele e o deixei em cima da cama como se estivesse numa cruz estrelada.

Retornei à garagem para achar algo que pendurasse seu corpo falecido e acabei encontrando alguns ganchos, desses em que se penduram carnes nos açougues.

Espetei o padre pelos braços e o dependurei nas vigas do teto como se fosse crucificado. Enfiei um gancho nas narinas de sua cabeça e a amarrei com um cordão em suas genitálias.

Deixei a casa do padre por volta das três e meia da madrugada. Coloquei as luvas cirúrgicas em um saco de lixo e joguei em um terreno abandonado na esquina da casa. Cuidei para que ninguém me avistasse nem ao longe e fui embora pelo outro lado onde havia menos casas.

Cheguei a minha residência com os ânimos renovados e animados, pois queria mais. Meu corpo e minha mente ansiavam por sangue e aquele casal de idosos seria o meu banquete naquele dia seguinte.

Tomei um banho e fui dormir, já que a noite havia sido ótima e estava muito agradável para se tirar um bom sono.

No outro dia passei de táxi pelo local onde morava o casal de idosos e desci perto da estação de trem chamada Industrial, desloquei-me em direção da casa passando na frente novamente, só que agora a pé. Pude analisar com calma e vi que o casal era realmente sozinho, mas as duas crianças estavam lá agora, onde não deveriam estar.

Ficou tudo claro em minha mente de que Deus estava me testando, eu deveria ou não matar aquela família? Permaneci parado por um instante e paralisado por um sentimento de extrema estranheza a mim mesmo, ao hesitar em matar aquela gente suja.

Aquilo foi somente uma pequena hesitação para mim, pois meu desejo por ata-los havia só aumentado. Vi pela janela uma das crianças chorando no colo do velho. O idoso acariciava as pernas da criança. Fui para casa com o ódio em meu sangue. Quando estava voltando, à noite se encarregava de esconder o dia. A técnica era simples, entrar sem ser visto com luvas e ata-los de forma que sofressem bastante.

Difícil seria esconder os corpos de quatro pessoas, como eu faria? Decidi então pegar minha faca Gourmet, faria parecer crime passional.

A lua nem nasceu naquela noite, pois havia grandes e densas nuvens carregadas de chuva.

Era por volta das onze e quinze da noite e as luzes estavam acesas, decidi esperar pelo momento mais oportuno. Esperei mais duas horas embrenhado no meio do mato, próximo ao arroio que cercava as casas daquela região da cidade de Novo Hamburgo.

HÁ uma hora e trinta da manhã eu bati na porta da casa do casal de idosos.

- Quem é? – Grita-me o velho com medo de abrir a porta.

Não respondi nada e bati outra vez.

- Quem é, quem está batendo e o que você quer, vou chamar a polícia. – O velho gritou novamente

Como ele não havia me visto, fiquei no pátio e dei a volta na casa de forma a contornar sem ser notado por debaixo da janela. Bati forte na janela.

- Estou chamando a polícia é melhor você ir embora.

É claro que ele não chamaria a polícia, eu havia cortado a linha de telefone da casa, além disso, como ele explicaria as duas crianças de cor diferente em sua casa já que aparentemente eles são velhos e sozinhos.

Como eu havia estudado bem a casa e sabia que ambos os vizinhos estavam longe eu esperei no pátio vizinho até que ele abrisse a porta e corresse para fora.

Pulei o muro baixo do vizinho e entrei na casa pela porta dos fundos usando ferramentas para arrombar fechaduras. A velha estava deitada e fui parar em uma espécie de lavabo dentro do quarto.

Lá eu permaneci até o velho entrar de volta na casa.

- Odete, acorda, acho que havia uma pessoa em nosso pátio. – O velho diz a sua esposa.

- Vai dormir meu velho, deve ser algum cão da rua.

- É deve ser.

Esperei todos voltarem a dormir, vesti minhas luvas e com minha faca empunhada, entrei no quarto das crianças, sim, elas seriam as primeiras a morrer para evitar gritos,

Acessei o pequeno cortiço, onde dormiam as crianças e sem dor alguma a elas, perfurei seus pequeninos coraçõezinhos puros com minha adaga. Deixei que eles sangrassem sozinhos e fui até o quarto do casal.

Pensei em cortar seus pescoços, mas estava muito irritado com tudo. Gosto do fogo, então eu fui até a cozinha procurar álcool. Não achei o álcool, mas achei alguns acendedores de churrasqueira que iria servir.

Coloquei vagarosamente embaixo da cama já acesos e jóquei alguns em cima dos lençóis. O fogo se espalhou rápido pela cama e logo a fumaça preta do colchão começou a tomar conta do quarto.

O velho acordou com a dor do fogo em suas pernas, enquanto sua companheira acordou com fogo em seus cabelos.

Às duas horas da manhã tranquei os dois no quarto em chamas e eles gritavam. Saí por onde entrei e o fogo tomou conta do lugar.

Foi prazeroso os ver queimando e gritando de dor.

E tudo termina como deve ser, com corpos jogados ao chão, gargantas cortadas, dor e minha satisfação renovada pelo brilho ofuscado dos mortos que abandonei.

Agora somados aos outros mortos minha purificação interior do meu viajante das trevas chegava a doze, mas será que isso terminará?

E assim morreu-se senhor

Morreu também senhora,

Morreram e foram embora.

Com uma camada fina de terra

E uma camada de grama seca por fora.

A lápide fria de mármore

Com sua foto em preto e branco

Onde um verme roeu sua pouca carne

Que palidamente estava esfriando.

Faz o tempo passar e matar os dias

Onde somos figuras vazias

De um destino torpe

E a crueldade do coração do bom moço

Um dia também será carne podre.

E eu olhando as águas frias de um poço.

Seduzindo meu corpo também a ficar podre.

Não há outra explicação para algumas das coisas

que os comunistas fizeram. Como o padre que teve

oito pregos enfiados na cabeça... E as sete

crianças e a professora. Eles estavam rezando o pai nosso

quando soldados os atacaram. Um soldado

sacou a baioneta e arrancou a língua da professora.

O outro pegou hashis e os enfiou nos ouvidos das

sete crianças. Como tratar casos assim?

- Dr. Tom Dooley

Dachau Auschwitz

Ubiratã Hanauer
Enviado por Ubiratã Hanauer em 12/03/2022
Reeditado em 12/04/2024
Código do texto: T7470832
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