A cadeira velha

Era exatamente nove horas da manhã de uma quinta-feira. Eu estava sentado em minha velha cadeira com meus pés sobre uma mesa de jacarandá que ganhara de um colega de profissão. A cadeira velha eu comprara em uma pequena loja de móveis usados, no centro da Penha. O velho que me vendera, disse-me que eu estava fazendo um ótimo negócio, pois a cadeira era uma relíquia. Havia pertencido a um grande chefão da máfia da década de 50. Logo percebi que estava sendo enganado, pois em toda minha vida nunca havia sabido de um chefão com a alcunha de Tanajura.

Perguntei o preço da cadeira e o velhote me cobrou o olho da cara. Paguei o que me pedira e fui embora carregando a cadeira em minhas costas. Se o velhote pensara que havia me enganado, caíra do cavalo, pois lhe pagara a cadeira com notas falsas de cruzeiros.

Enquanto revivia tais lembranças o meu último cigarro morria queimado entre meus dedos.

Sobre minha mesa havia uma caixinha de cigarros Marlboro com apenas um cigarro esperando-me para esvaziá-la e em seguida tornar a enchê-la com outra marca. Eu sempre comprava cigarros baratos e os depositava em uma embalagem de marca mais elevada. É claro que além de economizar eu impressionava também ao sacar uma marca mais cara que a daquele que estava ao meu lado fumando um chinfrim qualquer. Aprendi esse truque com um velho conhecido que fazia jogo do bicho no Viaduto do Chá.

Meu escritório estava cheio de fumaça. O chão lotado de guimbas de filtro amarelos, amarelos como meu diploma de detetive particular pendurado na parede descascada.

Quando pensei em ir para o bar tomar uma caninha, eis que surge alguém no corredor em frente à minha porta de vidro. Pela silhueta logo imaginei ser uma linda mulher que viera solicitar meus serviços. Sempre possuí uma imaginação muito fértil, então logo pude imaginar a beleza dessa mulher que eu estava prestes a ver com meus próprios olhos. Eu já a imaginava bonita, esbelta e possuidora de uma longa cabeleira escorrendo até as ancas.

De repente minha excitação tornou-se preocupação. Devido ao fato que boa parte das mulheres bonitas quando procuram um detetive, carregam consigo uma arma escondida na bolsa.

A porta de vidro foi aberta lentamente. Surpresa! Não era uma mulher e sim um homem gordo. Trajava um terno cinza, gravata preta e uma calça impecavelmente passada a ferro. Era possível sentir o cheiro de linho recém passado. Seus sapatos pretos brilhavam mesmo na ofusques provocada pela fumaça de meus cigarros dantes fumados. Quando ele tirou o chapéu cinza estilo americano pude ver que era careca e até familiar. Olhando-me bem nos olhos o mesmo me diz de uma forma cínica:

_Gostaria de negociar com você. Quero comprar algumas notas falsas, iguais àquelas que usou para pagar a cadeira... Tá lembrado de mim? Minha graça é... Tanajura!

Paulinho Dhi Andrade
Enviado por Paulinho Dhi Andrade em 22/02/2022
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