Diário 21/2/22

Das catacumbas mórbidas, nojentas e imundas, aonde os humanos me jogaram, os meus pesadelos não eram órfãos.

Dobrei, trinta anos, os joelhos, numa esperança de morte eminente.

Meu corpo petrificado de medos, e os meus olhos marejados em lágrimas se encontravam.

Dediquei tantos anos a uma dor imensa, tanta vida não vivida naqueles claustros moribundos.

Mas eis que pousa, em mim, uma pomba branca, depois deste tempo todo.

Era tão branca que reluzia nas trevas.

Manteve-se comigo outros 7 anos naquele assombro.

Perguntei-me, tantas vezes, quem ela era, mas eu não tinha entendimento para perceber....

Fez-me companhia, ouviu as minhas preces e as minhas angústias.

Eis que, um dia, decide partir, procura a janela que esteve sempre aberta e eu não via.

Olhou para mim, voltou a pousar nos meus pés.

No bater voraz das suas asas, vestiu-me de luz e Glória, e eis que, nesse momento, a pomba materializa-se em anjo!

Ao ver tamanha visão, desconstruí-me e olhando para mim mesma, não vi mais as vestes corroídas, nem aquele cárcere que se fez morada.

Então, esse anjo, vestiu-me de vestes brancas e puras trazendo-me a coroa da vida dizendo :

- Nunca estiveste sozinha, és coroada hoje pela tua dor, pelo teu clamor e porque os teus olhos, finalmente, abriram-se, dá-me a tua mão, não temas, e vem para seres aquela que toma posse da tua herança divina e das bênçãos do Teu Pai.

Agora vai tu, também, aos confins dos abismos, buscar os que não veem, não ouvem e sofrem.

Traz para o Nosso Pai aqueles que irão ver em ti uma pomba branca, que cega as trevas com o Espírito Santo.

Borboleta Raquel
Enviado por Borboleta Raquel em 21/02/2022
Código do texto: T7457184
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.