Quatro príncipes e um plebeu
Certo dia, em uma praça do saber, meio que por acaso, ou obra leviana do destino, reuniram-se os Quatro Pilares do Pensamento Humano! (Ou pelo menos assim pensavam: um geógrafo, um historiador, um sociólogo e um filósofo).
O Geógrafo bradava:
– O meu conhecimento é o maior de todos! Tenho o domínio dos mares, dos rios, da terra, da esfera, da estratosfera, da fera, do bicho, da fauna, flora, do homem, do clima e quando eu quero, ah, quando eu quero… Ainda passeio pela história, pela sociedade, refletindo sobre ambas…
– Mas não analisa a história com profundidade! Gritou o vaidoso historiador, com o dedo indicador apontado de forma certeira (e até grosseira) para os demais… Continuando:
– Eu, eu que sou o senhor do tempo, é que possuo o poder de viajar pelo passado de povos, mitos, mártires, falanges, pelotões, torpedos, tragédias, vitórias, conquistas, impérios, reinados de déspotas esclarecidos ou nem tanto, e, de quebra, ainda consigo auxiliar no presente e, pasmem: prever as inúmeras possibilidades de um futuro cada vez mais incerto!
Já o Sociólogo, do alto de sua importância (e alguns chamariam de petulância), proclamado estudioso das sociedades e do ser social, fez pouco caso do historiador, dos narizes empinados dos demais e mandou, sem hesitação ou qualquer medo:
– De nada adianta saber o tamanho da terra ou a quantidade de habitantes de um território, a trajetória de uma nação ou até mesmo a origem de um vilão, se é apenas o sociólogo, no caso, eu, que consigo realmente compreender, de forma ampla (e até bela): as desigualdades, as injustiças, os preconceitos, as gerações, as divisões, os vícios, virtudes, economias, políticas, situações… Eu sim compreendo!
– Compreende? Será que compreende mesmo? Salta na frente e desafia, com um olhar bastante irônico, o Filósofo. E instiga:
– Que compreensão é essa que vocês acham que têm? Se eu, que já refleti sobre tudo e todos, até mesmo sobre o nada, desde a Grécia Antiga, com o divertido e chato Sócrates, passando pela fé do engomado e comportado Agostinho, ou me deleitando com o satírico e revolucionário Voltaire, até alcançar o êxtase com o perturbado e obscuro Nietzsche… Eu, que vivo a explorar os inúmeros porquês, que residem nas palavras e gestos, poemas e canções, poesias (ah) e nem assim consegui obter o conhecimento necessário para se chegar ao prêmio glorioso das respostas altamente perseguidas… Por que vocês, meros pesquisadores de dados e páginas mal redigidas (e muitas vezes, incorretas), conseguiriam? Por quê? Por quê?Por quê?
Enquanto o filósofo perguntava, o sociólogo dizia, o historiador indagava e o geógrafo se sacudia, começava a surgir, lá, de longe, mas cada vez mais perto, um sujeito, meio cabisbaixo, um tanto encabulado, perante as tais ditas altezas…
Tratava-se de um pedagogo, que os demais logo o enxergaram como mero plebeu, que, pedindo permissão para falar, profetizou:
– Eu, conheço um pouco de tudo, e de tudo um mais (dependendo da percepção e da disposição de quem queira ver, ouvir, sentir e enxergar), mas lhes digo que o segredo do conhecimento, e, principalmente, do repassar deste conhecimento, não está na vitória ou no mérito de um, mas na união de todos. Todos os estudos são importantes, pois eles se complementam, de forma mágica (e ao mesmo tempo, tão real), fazendo com que o aluno ou o aprendiz passe a entender, a se fortalecer, a se reinventar… Não percam o tempo com brigas e vaidades, unam-se, já, e sem demora, pois desta forma, se tornarão: incríveis, envolventes, interdisciplinares, vibrantes, invencíveis, irresistíveis… Apaixonantes!
Pasmados e boquiabertos já estavam, os quatro pretensos príncipes, quando o humilde e sábio plebeu, com mais algumas palavras, encerrou a conversa:
– Só assim, vocês poderão, ou melhor, nós poderemos colher o maior prêmio que poderia existir: O sorriso no rosto de quem nos rodeia e de quem espera aprender cada vez mais, e muito mais.
Claucio Ciarlini (2013)
Especialmente para os meus alunos de do curso de Pedagogia.