Truculência
De tanta sede, ergueu o balde de zinco acima da cabeça e bebeu. Caía a água da boca, da beira do balde, pelo peito ensopando a camisa, pelas calças de ganga. Abrandou o calor do corpo, o fresco apareceu, breve, pelo ventre e ficou a escorrer mornidão enquanto o sol voltara a morder a pele agora mais de leve. Continuava a espera. A vida toda fora de excessos, de fomes nítidas, de determinações pouco meditadas. Um dia cresceu tudo o que havia de crescer. Esperou que lhe viesse a autonomia e fez-se à vida. No segundo dia de fome, aceitou a manada e tornou-se pastor.
Quando o radiozinho ficou sem pilhas, jogou-o, com raiva, para longe. Viria a procurá-lo depois e a achá-lo com a tampa posterior quebrada. Ao cair da tarde o gado seguiu-o até ao curral, acomodou-se na palha renovada e tornou amena a temperatura. – Era o que faltava dormir com as rezes, rezingou. Pela madrugada, quando a brisa começou a trazer um frio gelado, acomodou-se entre a Malhada e o vitelo e só acordou quando, mugindo, os animais pediam para seguir para o pasto. Comeu pão com queijo, bebeu do leite espremido da teta para a boca, assoou-se às costas da mão e lavou-se no regato.
Quando ela o viu gostou dele. Trouxe-lhe a merenda da parte do patrão, pilhas novas, o cântaro para manter fresca a água e disse-lhe que viria todos os dias. Precisando era só ir até à porta do seu quarto que estaria sempre encostada. Que só entrasse se fosse para ficar.