Dor e viver o agora

Ele andava pelas ruas, as mãos nos bolsos do jeans surrado. Trazia no bolso um pequeno aparelho mp3. No fones Cannonball do Damien Rice. Uma garoa fina caí sobre Torre del Greco. Caminhava pela calçada próximo ao mar. Barcos amarrados em estacas de madeira, para não serem levados pela maré, dançavam na enseada. Pensou no casamento do filho, na sua ex e mãe dele. Respirou fundo. Sentia- se culpado pelo abandono, mesmo que tivesse sido por uma extrema necessidade. Olhous as mãos, todas aquelas mortes, valeu a pena matar e perder os melhores e mais importantes anos de vida do filho?

Tinha 50 anos, Anita sua ex mulher e mãe de seu único filho tinha 45. Estava casada. Feliz. Estava linda. Deixou de ser uma jovem mãe para se tornar uma mulher madura.

E depois de tanto tempo. Olhou o mar, a chuva aumentava. Lembrou do começo dessa tarde.

Foi ao apartamento do filho. Anita estava só. Seu filho e Werner, o marido arquiteto descendente de alemães, saíram para conhecer arquitetura de Roma.

Conversaram sobre o filho, enquanto beberam uma garrafa de Sangiovese, e sobre o casamento dele. Mas algo despertou entre eles. Transaram. Não, fizeram amor sobre o sofá. Se beijaram e se amaram como na primeira vez, lá em Santa Helena dos Três Rios, no velho sobrado daquela rua sem saída. Ele sentiu pela primeira vez em anos que era uma despedida. Argov, sorriu. Ainda carregava o cheiro de rosas dela em seu corpo. Perdido. Era como se sentia. Ele sabia que aquilo era só por essa noite. Que no dia seguinte tudo iria voltar ao normal.

Mas, o amanhã não havia chegado ainda. Ele estava no presente. Precisava viver o agora.

E lidar com a dor naquele momento, para depois seguir em frente.

Wesley R. Curumim

Wesley Curumim
Enviado por Wesley Curumim em 31/01/2022
Código do texto: T7441894
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