Saindo da Ignorância
Capítulo 1
A noite estava estrelada . No velho tanque da fonte da nascente do monte, soava o correr suave da água, que não queria despertar ninguém. Ouvia-se as raposinhas, na encosta do monte. No pinhal do outro lado da ribeira uma coruja voava de um pinheiro para outro, treinando assim seu voar noturno. Era o lugar de Monte Alto, na serra Algarvia. Maria Lúcia acorda o marido, que profundamente dormia, numa noite do mês de Abril do ano de 1963:
- Rogério acorda! Pois estou com muitas dores de parto! Vai ao povo, buscar a senhora Carlota! Pois o bebé quer nascer. A senhora Carlota era a parteira no local.
- Tá bem mulher! Eu vou já me levantar! Rogério levantou-se e foi montado na mula buscar a parteira à casa desta. Naquela noite nasceu um rapaz . O casal Ferreira já tinha dois filhos e um rapariga mais velha. Agora nascia um menino, a quem puseram o nome Pedro ou Pedrinho.
Eram tempos difíceis, tempos de pobreza extrema em Portugal e no Algarve. O governo do país era, de uma política opressora. Era denominado "Estado Novo" A maior parte da população, não tinha qualquer conhecimento da realidade em que se vivia. Da parte do governo, não havia incentivo desde os anos 40 e 50, para que os pais enviassem seus filhos à escola. Todo o interesse do estado e dos seus governantes era que os cidadãos se mantivessem analfabetos, para não saberam nada sobre política . Assim evitava-se males grandes que ameaçassem a ditadura. Ninguém devia saber o que é o estado, política e outras matérias. Os portugueses só deveriam saber obedecer às autoridades e saber rezar as rezas de uma religião sem verdade alguma. Uma religião que deixava o país na Ignorância. Na arte da escrita e leitura, poucos eram os cidadãos que sabiam ler e escrever. O senhor Salazar não facilitava nada, para assim ser o dono de Portugal. Povo instruído era povo perigoso. Os portugueses estavam a sombra de uma grande Oliveira de Santa Comba Dão. Depois já mais no período do professor Marcelo Caetano, houve alguma mudança na política do estado. A ditadura fascista no entanto continuava. A juventude das universidades, tinham oportunidade de mostrarem os seus valores políticos e por isso alguns participavam em manifestações. Mas claro que eram perseguidos e mesmo presos. Apareceram, mesmo partidos de esquerda e direita de modo clandestino. A religião do país era uma religião fanática, que não tinha nada ou mesmo nada de cristianismo, mas que adoravam uma Senhora de Fátima, que dizia ter aparecido em 1917, por coincidência ou não no ano em que se deu a revolução Bolchevique na Rússia. Tal como no tempo de Renascimento em Portugal, o Santo Ofício, perseguia todos os sábios, intelectuais e cientistas sendo mesmo o culpado da ignorância que ainda no século XXI se reflete nestes tempos. Em Itália mataram Galileu, ou melhor ajudaram a matar, pois morreu de doença .Em Portugal a religião aliava-se à política de estado e ambas dominavam em tudo, isto mesmo no século XX. A religião em Portugal, não era mais que crendices, falsas que nada tinham que ver como o cristianismo primitivo.
Neste contexto, nasceu Pedro Ferreira, que sempre foi perseguido por Lúcifer e isto sabe Deus qual a razão.
A família Ferreira, depois de 4 anos se passarem foi morar, para outro lugar chamado sitio do Valinho, onde Rogério e sua esposa continuaram a dedicar-se à agricultura. E isto porque Rogério não aprendeu mais nada, pois aos 7 anos tinha ido para as montanhas da serra cuidar em vacas. Mas as vacas tinham uns cornos tão grandes, que o pobre menino fugia delas com muito medo que elas lhe marrassem.
(Continua )