Não deu certo
Subornar o soldado era uma possibilidade. Havia outras, mas essa, sem dúvida, embora contra os seus princípios, era a mais eficaz. Precisava chegar no aeroporto em tempo hábil para despedir-se de Antonio, seu parceiro de vida há dez anos. Havia uma semana que ele estava em Recife a trabalho e conseguiu articular a chegada para despedir-se dela no aeroporto de Guarulhos.
No último mês a vida de Sara tomou um rumo nunca antes imaginado. Era professora de uma Universidade e recebera um convite para cursar uma pós-graduação em Seattle por seis meses. Irrecusável. Ela e Antonio nem tocaram no assunto, a não ser sobre as providências que ambos teriam que tomar para os próximos meses. Naquele mês a saudade de ambos começou a amargar como fel. Era como se cada dia pressentisse uma despedida. E naquele dia, com uma semana de distância, a saudade explodira.
Próximo ao aeroporto Sara, dirigindo o carro de Antônio em alta velocidade, obrigou-se a parar em uma blitz. Com olhar firme cumprimentou o soldado com uma nota de duzentos reais na mão. A atitude foi imediata. Precisava chegar a tempo de despedir-se do marido.
Para sua surpresa o soldado rejeitou a propina, aplicou-lhe uma multa por alta velocidade e sentenciou que a processaria por suborno.
Desolada Sara partiu, chegando a tempo de jogar-se nos braços de Antonio no aeroporto. Não falou nada. Abraçando-o decidiu que deixaria que a multa chegasse para explicar a Antonio o motivo e, quanto à intimação, certamente quando a recebesse já estaria de volta do Brasil. A justiça por estas bandas é lerda demais, pensou.
O momento não era propício para grandes explicações.
30/12/2021