O menino e seu castelo de areia
Muito embora pequeno, analisava tudo aquilo com apurado senso crítico: pessimista, negativo por sinal. Porque não entendia como que uma massa considerável de pessoas ansiava por estar num local quente, repleto de areia e de um "grande lago cheio de ondas" à frente, constituído de água salgada. Não era agradável. Vá entender os adultos...
Os momentos que antecederam a chegada à praia, foram marcados por discussões entre seus pais. A mãe queria que uma cadeira e um guarda-sol a mais fossem levados. O pai, em tom áspero, contra-argumentava a impossibilidade diante do pouco espaço existente no carro. Com o passar dos anos, pôde entender que, geralmente, grandes discussões antecediam as idas às praias.
O pai bebia cerveja gelada retirada de um médio isopor lotado de gelo e de outras cervejas. A mãe se bronzeava. A criança, desconfortável com o ambiente e curiosa em entender o mundo adulto, questionou a mãe:
- Mãe. Porque você está debaixo do sol se temos aqui dois guarda-sóis?
- A mamãe quer ficar com a pele bonita.
- Eu também quero ficar com a pele bonita. Posso sair do guarda-sol?
- Não garoto! Fique quietinho aí, ok?
Havia outras muitas crianças na praia. Corriam espalhando areia, divertiam-se com bola, raquetes de madeira e boias, mergulhavam juntamente com seus pais. Seu pai oportunizou o mesmo para ele. O frescor da água do mar no corpo pela primeira vez. Água nos ouvidos, estranha sensação. Gritou animado para seu pai "de novo!". E assim por muitas vezes naquele fim de manhã.
Dentre os afazeres possíveis na praia em um dia de verão, a construção de castelos de areia. Baldinhos, pás, ancinhos, conchas para o enfeite da edificação, pais e mães unidos aos filhos na perspectiva de cristalizar uma obra prima. Seu pai não tinha planejado fazer com ele um castelo de areia. Mas o menino demostrou interesse ao ver uma outra criança no procedimento. Não tinham os instrumentos, mas, o pai o tranquilizou dizendo que tinham as mãos. Que com elas poderiam fazer maravilhas.
E assim foi. A mão do pai e as mãozinhas do filho amontoavam areia. Este monte era moldado em formas e, as formas, endurecidas por um pouco de água buscada do mar.
O castelo tinha, segundo o menino, uma imensa muralha que o protegia contra invasões estrangeiras. Possuía um portão magnífico de ferro que se abria apenas mediante palavras mágicas. Apresentava por dentro, uma série de cômodos, sendo que o maior era o do rei e o da rainha. Seu pai e sua mãe eram, respectivamente, rei e rainha. Ele? Ele era o príncipe.
No fim de tarde, o castelo era imponente na praia. Construção magnífica, feita sem o auxílio de baldinhos, ancinhos, de nada! Apenas as mãos hábeis o edificaram e, a ideia do menino, no dia seguinte, era ampliar a obra.
Contudo, o pai não lhe falou que o mar de humor oscila. Que o mar era muito mais cruel do que os possíveis invasores de castelo que existiam por ali. Tudo porque, no dia seguinte, aquele mar tinha avançado e, do castelo de areia construído, nem uma única sobra. Lágrimas caíam dos olhos do menino que perguntou para o pai:
- Por que o mar fez isso pai? Por quê?
- O mar é assim filho. É apenas o mar. É apenas o mar...
São José, 06 de janeiro de 2022
Cleber Caetano Maranhão