O estranho homem de Israel
Gideon Argov dirigia um Skoda 2016. O relógio marcava 23:59 de uma quarta- feira. Seguia pela Avenida Rokach, saindo de Tel Aviv, passando pela rua HaBanim até o destino Herzliya.
Não tinha problema em se guiar pelas placas de Israel, conhecia bem o Hebraíco. Era uma de suas línguas nativas, como costumava dizer. O céu noturno estava limpo sem nuvens, um vento frio soprava do Mediterrâneo.
Estacionou o carro em frente a uma casa grande de muro baixo na rua Uri Tsvi Grinberg. Um Mercedes estava parado na frente. Dois guardas costas de ternos estavam encostados no carro. Olharam para ele sem interesse e indicou a porta. Argov entrou no portão e foi para dentro da casa. Essa casa era mais uma das tantas casas seguras eles tinham. Gideon achava justo não saber o endereço de seu mestre. Poderia ser perigoso para todos.
Ele estava sentado no terraço, olhava na direção do mar. Seus cabelos agora estavam totalmente branco, seu mestre envelhecera nesses últimos anos. A idade e a responsabilidade do cargo que ocupava lhe tirou os anos e o resto da juventude. Gideon enfiou as mãos no bolso do casaco e se aproximou, sentou ao lado do seu velho mestre. O homem que lhe ensinara tudo sobre restauração e pintura. Quando falou sua voz saiu ainda mais baixo como de costume.
Fiquei sabendo que terminou o Bellini que deixei pela metade. Gostaram muito do resultado. Conversavam em alemão, a língua materna que seu mestre adorava. Gideon sorriu, se lembrou da responsabilidade e de seu batismo de fogo. Seu mestre precisou sair para assumir o trabalho que estava agora, e deixou- lhe essa difícil tarefa. Mas Gideon conseguiu passa nesse teste. Foi há tanto tempo.
Você me deixou essa responsabilidade. Eu nem sabia se estava a altura.
Sim, Gideon, você estava. Era o único que podia cuidar daquele Bellini.
Os dois sorriram.
E Sara e os gêmeos?
Estão bem. O menino quer ser arquiteto. Já Rona quer seguir meus passos, está estudando artes e me pediu para ensina- lá a pintar.
Ele se sentia relaxado, era raro poder se dedicar a sua vida pessoal. Por isso animal conversou com Gideon sobre artes. Gideon contou o que aprendera e o que havia restaurado. Seu nome estava crescendo. Foi uma boa conversa de duas horas. A despedida foi silenciosa.
Gideon entrou no carro e saiu dali. Foi para o aeroporto internacional. Não sabia quando veria seu mestre outra vez, ou se o veria. Mas era essa sua vida, seu trabalho. Gideon apenas esperava com paciência o próximo encontro. Na madrugada de Quinta ele foi para Letônia.