José, homem de boa vontade

Antes de morrer um certo famigerado governador de uma de uma das regiões também dominada pelo Imperador de Roma, um dos Césares, o Augusto, decretou um censo aos cabeças de cada família daquelas paragens.

Mais ainda, eles tinham que vir para jurar lealdade ao Império, alistando-se e para posteriormente lhe serem cobrados impostos. Esses chefes de cada casa deviam ir até as autoridades e não essas irem a eles.

...E lá foi José, o velho e honrado carpinteiro de Nazaré, o melhor do lugar, levar sua mulher gestante, já perto da concepção para cumprir a ordem anunciada pelo porta-voz.

Penso que quando lhe perguntavam se sua companheira de viagem era sua filha, se ele ia ser vovô, José sentia um misto de estranhamento e orgulho, afinal sua amada era muito mais jovem.

Ele aproveitaria a viagem para levar a criança para ser apresentada aos sacerdotes, no templo, mas tinha que conseguir um animal para oferta de sacrifício. Sua carpintaria não rendia tanto, a viagem estava sendo custosa... Não dava para comprar um cordeiro?... Por sorte, conseguiu capturar uma inocente rolinha. Essa devia bastar.

Sua cidade Natal, Belém, estava um alvoroço. Aguardou algum tempo ainda acampado do lado de fora da cidadezinha... Mas a mulher já começara a sentir que chegava a hora. Era o primeiro filho dela.

Lá foi o velho José em busca de lugar mais digno para procederem às práticas e rituais do dia natal. Aquele bebê, ele sentia, era especial.

- Saudações, velho amigo! Quanto tempo... Como vai a família?

- Ah... Eu enviuvei. Essa minha mulher agora é muito nova. Ela está em vias de trazer um bebê à Luz e preciso de um lugar para que ela repouse da viagem e tenha criança.

- Te considero um irmão, José. E penso que é o mundo que receberá Luz. Não é assim com cada criança que nasce? ... Mas como você deve ter visto, aqui tem gente dormindo na mastaba, na galeria, no teto sobre ela e até perto do fogão! Todos que tem casa na cidade estão alugando caro qualquer cantinho por temporada e a cidade está vertendo gente por todo lugar... É esse tal decreto imperial!

- Sim já procurei em muitos lugares, falei com conhecidos. Ah! Amigo... que vou fazer? ...Espera! Onde você guarda os teus animais?

- Mas José, eu não poderia... Você é da linhagem de sacerdotes...

- Se isso for o melhor que eu puder fazer... eu lhe seria tão grato!

- Está bem... O estábulo. Você se lembra onde fica. Mas toma essas cobertas. Me avisa quando chegar a hora.

Naquela noite a luz de um cometa, fez a noite parecer dia. Houve canto dos meninos pastores... Uns dias depois chegaram uns homens com roupas orientais, passaram na casa dos mestres, dos rabinos e também foram recebidos pelo próprio Governador. Vieram com muita bagagem e procuravam o lugar onde a luz apontando, havia brilhado mais. Eram estudiosos das estrelas, das tradições antigas e da magia. Era bem na entrada oeste da cidade. José os recebeu e os levou para verem seu menino. Foi dia de receber reis e magos.

...

No livro sagrado dos cristãos é dito que quando a criança nasceu, um menino, os tais pastores souberam do nascimento da criança porque um anjo "veio sobre eles" e houve um resplendor" muita luz e que eles tiveram muito medo. Conta-se que o anjo falando a eles disse: "Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo, pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador (...) E isto vos será por sinal: Achareis o menino envolto em panos, e deitado numa manjedoura." O relato diz que "com o anjo uma multidão dos exércitos celestiais, louvando a Deus, e dizendo:

Glória a Deus nas alturas, Paz na terra, boa vontade para com os homens."

Certamente José foi agraciado, tanto quanto sua amada Maria, pois ali estava um "homem de boa vontade".

Alberto de Almeida
Enviado por Alberto de Almeida em 23/12/2021
Código do texto: T7413511
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