Os três desempregados
Marcelo permanecia em casa pela manhã, tarde e noite. Morava no segundo andar e seu apartamento tinha uma sacada que dava para os outros blocos da frente naquele condomínio. Sua esposa, ao contrário, saía pela manhã e retornava apenas pela noite. Ela trabalhava.
Marcelo, ao despedir-se de sua esposa por volta das seis horas da manhã, iniciava um movimento ansioso que compreendia entre estar sentado no sofá e sair dele em direção à sacada. Um ir e voltar constante, sempre de posse de seu smartphone. Neste aparelho, a expectativa de que os currículos deixados se convertessem em mensagens de whatsapp para uma entrevista agendada, mesclada com a possibilidade de ganhos – geralmente frustradas – em trades mirabolantes que prometiam lucros de 1000% ao mês sem sair de casa.
O olhar de Marcelo era aflito.
Sandro permanecia, em boa parte do dia, na área comum e arborizada daquele mesmo condomínio, tendo como companhia seu passarinho enjaulado. Era um coleirinha que cantava. Depositava nele a esperança de premiações absurdas em campeonatos de canto de pássaros. Um emprego tornara-se um mito há dois anos. A demissão de um cargo que exercia há 25 anos, deu-lhe uma pomposa rescisão, contudo, o dinheiro desapareceu em um ano.
A sua companheira olhava toda manhã atônita para uma cena que considerava degradante: um homem que depositava esperanças num canto de um pássaro ao invés de trabalhar. Marcelo argumentava a ela que se o canto fosse certo, a família estaria segura por um bom tempo. Ela tinha pena de Marcelo.
O terceiro desempregado era Pedro. Também morador daquele condomínio, diferente de Marcelo e Sandro, não tinha o apreço pelo ar livre. Casado, permanecia com as cortinas fechadas quando sua esposa estava fora. Pediu demissão do emprego porque perdeu a noção de identidade.
É uma longa história os detalhes de como ele chegara a esta condição. Mas o que pode ser dito, de modo a não tornar a narrativa exaustiva, é que durante um momento no qual digitava um relatório no computador da empresa, percebeu que tudo aquilo era um erro e que não poderia, portanto, existir nem um funcionário, nem um Pedro, nem uma identidade. O silêncio e o vazio se apossaram dele. Permanecia assim em casa. Sua esposa se resignava, o que causaria um não entendimento para um expectador da situação de fora.
Havia um alívio no silêncio e vazio vivenciado por Pedro. Ele não queria trabalhar.
Tijucas, 17 de dezembro de 2021.
Cleber Caetano Maranhão.