A volta de Caravaggio ( Trilogia Caravaggio Parte 3 )
Por uma grande ironia, O Martírio de São Mateus foi a tela que lhe deu mais trabalho. Poderia dizer que foi o seu martírio. Mas nem por isso Gideon se abalou. Dedicou- se ao restauro. Passava semanas trabalhando por toda a madrugada e boa parte da manhã, outras vezes aparecia apenas pela tarde e ia embora na manhã seguinte. Apesar de não aparentar o rosto abatido ou qualquer sinal de fadiga, padre Domenico lhe trazia sanduíches ou o puxava para almoçar, nos dias em que se encontravam na capela. O trabalho todo durou dois meses inteiros. Quando terminou, padre Domenico se emocionou, fez questão em chamar o bispo e uma parte da Diocese romana. Todos contemplaram o restauro das três obras. Gideon ainda tentou não estar presente mas foi impossível, todos lhe saudaram agraciados. Recebeu o pagamento em euros acrescidos de um bônus. Gideon conseguiu escapar da festa entre a igreja de inauguração.
Apesar da fama, não era a festa dele. Ele seria o centro das atenções bem sabia. Mas como seu mestre, Gideon também achava que não merecia nenhuma gratificação pública já que todos os louvores pertenciam aos mestres antigos. Quem era ele perto de Caravaggio?
Guardou seus pertences numa bolsa e numa caixa de madeira e se despediu de todos. Foi para a casa. Tomou um banho e tirou todo o resto de tinta do corpo.
Andou nu do banheiro para o quarto. Já era noite fria em Roma. Sentiu um vazio chegar de repente. Era o que sempre acontecia quando terminava um trabalho e voltava para casa. Preparou um sanduíche de salame com provolone e café quente. Estava nu, sozinho no apartamento pequeno. Poderia sair e se distrair. Mas tudo o que precisava era daquilo, do sanduíche, café, estar nu e a solidão do apartamento. Sorriu e se concentrou no sanduíche.
Wesley R. Curumim
O Martírio de São Mateus
Autor: Caravaggio
Data: 1599-1600
Género: Pintura
Técnica: Óleo sobre tela
Dimensões: 323 × 343