A NOITE
O céu, que antes estava coberto de estrelas, cobriu-se com um longo manto negro. Um vendaval anunciava a chegada de uma noite chuvosa e fria; o farfalhar das árvores despertou-me a vontade de comer pipocas. Embora o clima fosse tenso, o perfume da vegetação transpassou-me doçura e suavidade; e, o cheiro da terra molhada, além de revigorar-me, aqueceu meu coração.
Entre raios e relâmpagos, ao aproximar-me da porta de vidro, olhei para os lados, ninguém parecia notar a minha presença, exceto uma pequenina que, a passos lentos, achegou-se a mim. Seu olhar tinha um brilho especial, ainda que repleto de tristeza e dor. Fiz-lhe um gesto que fosse à porta. Ao abrir, nenhum sinal da garotinha. O que teria acontecido? Fracassei ao tentar interagir com ela?
Após aguardar, por meia hora, fui dormir. Em sonho, vi-a percorrendo trigais ensolarados. Seu rosto era alegria e felicidade. Perguntei-lhe:
– Como te chamas?
– Stella!
– Estela?
– “Estrela”! Gestos fraternos afloram sentimentos bons e são importantes na constituição do equilíbrio interior.
– O quê?
– O amor propicia novas possibilidades de compreender e entender o mundo.
Com o toque da campania, acordei-me. Na porta da frente, a pequenina.
– Bom dia! Vim entregar a sua encomenda.
– Minha... o quê?
Sorrindo, entregou-me uma cesta de flores e disse:
– Espero que gostes. Fui eu que fiz o arranjo!
Confusa, falei:
– Está belíssimo! Obrigada!
Desejou-me bom domingo e, com as pontas dos dedos, atirou-me beijinhos e desapareceu.