Amor delicado.
Meu nome é Carina, e vou relatar a estranha história de minha família e meu amado filho Gabriel.
Tudo aconteceu no ano de 1990 na Zona Sul em Porto Alegre, no imenso casarão da família Ferreira da Costa Lemos, liderada pela minha mãe Gina, aos 90 anos, mas com vigor suficiente para dominar a todos nós.
Foi numa manhã de primavera, a primeira após completar noventa anos, que minha mãe ainda na cama, aos berros, ignora a campainha na mesinha de cabeceira e grita:
- Sabrina! Sabrina, quero levantar, sua lerda!
Até hoje não me conformo com a chegada daquela mulherzinha vulgar para cuidar de minha mãe, mas a velha era teimosa e decidia tudo sozinha.
Sabrina, trinta e cinco anos, olhar enigmático e profundo, solteira, contabiliza alguns namoros e aventuras rápidas porém intensas, mas nunca tivera a sorte de encontrar um amor, descobri após mandar investigar a vida da mulher, mas era honesta e trabalhava bastante, se não fosse tão rodada... acho que até aceitaria a escolha de meu filho. Mas continuemos com as minhas desventuras...
Ao ouvir a patroa, Sabrina dá uma ajeitada no cabelo e caminha rápida para o quarto da matriarca.
Abre a porta gentilmente, e pergunta:
- Pois não, senhora? Desculpe a demora.
- Quero levantar, estou com as costas doloridas.
Gina acabou em cadeira de rodas devido a um grave problema de coluna.
Ágil e competente, Sabrina ajuda a velha a levantar e delicadamente troca suas roupas para colocá-la em sua cadeira de rodas.
Não se sente humilhada naquele emprego, pois após a empresa da família falir e sem qualificação para outro trabalho, arrumou este emprego e agradece a boa remuneração, pois disposição para trabalhar tem bastante.
O casa de luxo é imponente e contém inúmeros quartos para a família tradicional que não ficou independente e não formou novas famílias.
É pensando nesta estranha família que Sabrina conduz a matriarca para a sala de jantar onde todos reunidos aguardam a avó para tomarem o café da manhã.
Entre eles meu filho Gabriel, Gabi para a família e meus irmãos, os tios mais velhos e decadentes. Henrique contabiliza dois casamentos fracassados, e João continua um solteirão inveterado e indolente. Sei que no fundo ambos nutrem a esperança de que o rapaz tenha destino diferente, o que para eles significa desvencilhar-se das garras da matriarca forte e manipuladora.
Do alto dos seus 20 anos, Gabi exibe porte alto e é um jovem bonito e extremamente inteligente.
Contudo, fruto da educação rígida demais, ainda é dependente emocionalmente de Gina.
Percebi de imediato a reação do meu filho ao ver a mulherzinha, e a partir daí só aumentaram minhas preocupações.
Ao ver a figura esbelta e atraente de Sabrina, percebo que Gabi sente um leve rubor e uma sensação estranha de excitação, coração disparado.
Sabrina, imperturbável, depois de acomodar Gina na cabeceira, dirige-se à cozinha para o café com as demais empregadas.
Durante o café, vejo que Gabi me olha e sinto que ele perdoou meus casamentos equivocados e me acolheu carinhosamente, menos mal.
Como meus irmãos, gosto do conforto e afinal a mãe tem tanto dinheiro que prefiro também usufruir confortavelmente dos benefícios de uma vida boa do que batalhar como os demais mortais como fiz durante meus casamentos nada compensadores.
E também quero estar ao lado do filho novamente, pois Gabi, o preferido da avó, ainda pequeno, quis voltar para a casa da matriarca, pois não aceitou minhas escolhas de vida, fato que se comprovaria com o tempo.
Temperamento dócil e extremamente carinhoso, Gabi fica feliz com a volta da mãe ao reduto familiar.
Durante o café da manhã reina o silêncio, Gina anda irritada com suas dificuldades naturais da idade, e transforma a casa toda em uma confusão de pessoas tentando ajudar e se atrapalhando mais ainda.
Gabi interrompe o silêncio:
- Vó, eu gostaria de fazer estágio na minha área, assim vou adquirindo experiência.
A fala de Gabi só aumenta sua irritação, pois Gina não permite que o neto trabalhe, e exige que use seu tempo apenas para os estudos. Ele está na faculdade de direito e pretende com isto trabalhar na área jurídica da empresa da avó que um dia será de sua mãe, seus tios e sua também, mas gostaria imensamente de trabalhar como seus colegas, talvez conseguir uma namorada...
- Eu já disse que não! Você vai apenas se dedicar aos estudos, Gabriel, retruca friamente.
Depois da resposta da avó ele decide uma recuada estratégica, mas desistir não é palavra que conste em suas falas e convicções.
- Família, vou para a faculdade, anuncia após terminar seu café, uma refeição estranha, com pessoas caladas e imersas em seus pensamentos.
- Venha dar um beijo na sua vó, diz Gina com a voz estranhamente doce.
Gabi carinhosamente beija a velha no rosto e sai para a rua ensolarada e alegre.
Após sua saída o ambiente parece pesar como de costume, mas todos já acostumaram.
- Mãe, vou dar uma volta nos jardins, anuncio levantando-me e saindo elegante, passos decididos. Nos jardins poderei respirar, longe desta gente insuportável.
Assim como Carina, João e Francisco, os irmãos solteirões e folgados, também saem para a rua, vão buscar algum lugar para jogar um pôquer e talvez arrumar umas mulheres para um divertimento passageiro.
Só na cabeceira da mesa, Gina exibe um olhar vazio e insatisfeito.
Então viver era isto? Ter que aguentar filhos fracassados e interesseiros? Não fosse o neto brilhante não teria mais motivos para viver. E começa a simpatizar com Sabrina, a cuidadora séria e competente.
- Novamente ignorando a campainha, berra:
- Sabrina, sua tonta, anda logo que quero pegar um sol.
Empurrando com cuidado a cadeira de rodas, Sabrina usa um chapéu elegante para proteger a cabeça, assim como acomodou o chapéu escolhido por Gina.
Estranhamente, a velha resolve puxar conversa:
- Menina, fale um pouco de você, gostaria de saber de tua vida, se estiveres disposta e não for indiscrição de minha parte.
- Claro que não, dona Gina, imagine, fui criada...
Com paciência descreve os acontecimentos mais importantes de sua vida, omitindo alguns fatos irrelevantes.
- Ora veja, responde Gina, então já tiveste dinheiro e uma vida abastada? Por isto és educada e tens o estilo das pessoas bem nascidas.
Sabrina pensa nos milhares de brasileiros que não tiveram oportunidade mas prefere calar. Gina jamais entenderia, a vida dela não passa dos portões imponentes que cercam a casa.
Sabrina passa o tempo livre lendo ou ouvindo música em seu quarto funcional e confortável, com televisão e frigobar para ter seus alimentos reservados e não perturbar a casa se precisar de um lanche noturno, hábito que nunca tivera, sua alimentação é frugal e natural.
Repousa o livro nas pernas bem torneadas e descobertas pela camisola curta e deixa o pensamento vaguear.
Já faz um certo tempo que percebeu os olhares de Gabi (só pensa nele com o apelido, pois no tratamento é Gabriel) para ela, cada vez mais intensos e perturbadores.
No início ela achou que estava imaginando coisas, pois a diferença de idade deles é muito grande, mas com o tempo percebeu que o olhar no início apaixonado, evoluíra para um desejo abrasador.
Sem namorado há muito tempo, ela está também atraída pelo rapaz exuberante e inteligente, muito maduro para a idade.
Só de lembrar, leva a mão ao sexo pulsante e freneticamente busca um alívio para a tensão acumulada.
Assusta-se com as batidas suaves na porta. Recompõe-se e vai abrir só uma fresta.
Gabi coloca o pé na fresta e entra no quarto, está nervoso.
- Des... culpe, Sabrina, entrar assim, mas eu preciso falar contigo, já não aguento mais.
Ela ouve em silêncio, coração batendo forte na garganta, mãos suadas.
- Estou apaixonado por ti, não posso mais viver com este segredo, confessa o rapaz olhando-a intensamente nos olhos.
Por sua vez, com seu desejo represado ela não consegue proferir uma palavra, apenas mergulha no olhar profundo que lê sua alma.
As mãos se encontram, o beijo vem abrasador, despem-se com um nervosismo de algo muito esperado e finalmente a penetração vem exigente, com gosto de água no deserto, sorvete no verão, vinho que ele lambe entre os seios magnifícos que se oferecem ofegantes e exigentes, como exigente ele explora todo o corpo que se oferece sem pudores.
A ondulação perfeita do encaixe cresce até explodir em orgasmos abafados pela mão dele na boca da moça.
Gabi despede-se com um longo beijo, pois teme permanecer mais tempo no quarto da moça.
Ela o acompanha até a porta e lançam um último olhar apaixonado.
Sentindo-se uma adolescente, Sabrina encosta-se na porta fechada e fica sorrindo feito uma boba.
Passam os meses e os encontros continuam cada vez mais íntimos e intensos. Gabi já não imagina a vida sem ela, ela já não imagina a vida sem ele.
Como superar o obstáculo da idade, posição social, a vó de temperamento difícil?
Gabi confessa a Sabrina que vai falar com a avó que quer casar com ela.
A moça fica muito nervosa, mas afinal a situação está insustentável.
- Não passa de hoje, diz ele decidido no encontro deles no quarto dela.
- Boa sorte para nós meu amor, ela diz apertando fortemente a mão dele.
Resolvem que será na hora do jantar.
O dia parece não passar para os dois, mas finalmente, mesa posta, família reunida, Gabi chama Sabrina para a sala de jantar e comunica que vai dizer umas palavras para a família, em especial para Gina, que não parece surpresa e ostenta um olhar blasé.
Fico surpresa com tudo isto, afinal o que meu filho está pretendendo? Meio aturdida ouço o comunicado:
- Vovó, família, comunico que eu e Sabrina vamos nos casar.
Chego a me afogar com a água que estava bebendo, os tios tossem constrangidos, mas o olhar de Gabi está fixado na avó. Essa exibe um olhar orgulhoso e propõe um brinde:
- Gabi, meu neto amado, escolheste uma mulher de fibra, ao contrário destes trastes que vivem às minhas custas, tenho certeza que vocês serão felizes e ela vai te ajudar a impulsionar tua carreira! Tim-tim.
Aqui encerro meu melancólico relato. Meu filho teve dois filhos com aquela mulherzinha vulgar, pouco mais nova que eu, e ostentam uma felicidade de dar inveja, logo eu que não tive sorte no amor. Mamãe faleceu aos noventa e cinco anos, ainda teve a sorte de ver os bisnetos e pela primeira vez em muitos anos vi a velha sorrir novamente.
Meus irmãos viraram alcóolatras e estão em tratamento, continuam vagabundos e mulherengos.
Mas afinal me resta o consolo e o orgulho de ter tido meu filho Gabi, que afinal está feliz e tocando a empresa com competência, com a ajuda da... da... vaca velha, quase da minha idade.