Sentou-se diante daquela imagem que a fazia perder o fôlego. Em sua mente um filme em ordem descrescente. As cenas iam e viam chacoalhando a mente avassaladoramente.
Os sentidos pareciam competir entre si buscando uma identificação que a transportasse para um passado recente e a devolvesse as emoções controladas, mas que a ludibriavam, diante do ocorrido.
Quem viria lhe dizer que tudo não passava de um pesadelo, que em seu apartamento gravaram cenas de novela?
Pegou a caderneta usada para anotar sua lista de prioridades e se entregou ao choro. Era a única companhia que via naquela fumaça. Um suspiro mais intenso a conduziu para o lar que haviam construído: a mandala na entrada da sala, afastaria o mau olhado; no sofá ficaram as dores e cansaço depositadas em sonecas conjuntas, cheias de afagos e apoio; no quarto, os corpos transmutavam em intimidade; na cozinha, o corpo era saciado.
O dentista da mãe, o carro do pai, a faculdade da irmã. O afilhado, aniversário da amiga. Nada esquecido! A não ser o sistema elétrico que vivia dando panes e falhou em faíscas.
Por trás daquela história transformada em cinzas, havia uma menina trabalhadora. Cada parte da casa em chamas era um dia a mais de luta.
- Obrigada, Deus! Da morte nos livrastes.
Rasgou as folhas da caderneta e ao inaugurar os cardinais, colocou-se em primeiro lugar. Afinal, entre todas apontadas, jamais se colocou.
Tirou fotos pra apresentar para a corretora de seguros e foi pro cabeleireiro. Nem tudo estava perdido...