Caminhada - BVIW
Sarita estava pensativa, ensimesmada. Por que não era feliz? Onde havia perdido o fio da meada de sua vida, que lhe parecia agora tão vazia?
Tivera uma infância simples, de menina pobre, mas feliz. Os abnegados e amados pais, à custa de muito sacrifício e esforço, conseguiram fazer com que ela completasse um curso universitário.
A juventude fora banal: algumas festas, alguns namorados, nada intenso, nada que deixasse marcas.
Vivia agora uma situação financeira confortável, tinha um bom emprego, algumas amizades. Então, por que essa sensação de fracasso, de inutilidade?
Resolveu caminhar pelos meandros de sua alma. Com profunda dor, descobriu o quanto era egoísta. Sempre se preocupara apenas consigo mesma, seus interesses e motivações, suas comodidades. Nunca abrira mão de nada em favor de alguém. Lembrando da vida, compreendeu que, além de si mesma, só amara verdadeiramente os pais, que agora não estavam mais neste mundo.
Sentindo-se profundamente só e infeliz, enxergou a única maneira possível de reverter o quadro: amar outras pessoas como amara seus pais, com desprendimento e empatia.
E, puxando este fio do novelo de sua vida, percebeu que poderia resgatar a felicidade passada e que nem tudo, afinal, estava perdido...
Lu Narbot
Tema: Nem tudo se perdeu (Conto)