(Mom and a Pie – Painting by Robert Bisset)

 

Júlia andava pelas ruas apreciando aquele ambiente Natalino. As árvores cheias de luzes, as músicas no ar, e  as vitrines caprichadas das lojas; um marketing inteligente que atraia os olhos das crianças. Resolveu parar para tomar um café. Naquela época do ano existia todo tipo possível imaginável, mas, decidiu-se pelo pretinho básico, optando por uma generosa fatia de panetone. O movimento da rua trouxe à sua memória muitos momentos passados.


Na casa de seus pais, o aroma na antevéspera do  Natal era irresistível! Aquela famosa torta de nozes que sua mãe fazia com todo capricho! No dia 24 a noite, aquela ceia deliciosa e todos sentados ao redor da mesa em uma grande comunhão de almas. Mais tarde, durante a entrega dos presentes cada um gesticulava e era a hora da mímica para adivinhar quem era o amigo secreto. E os anos foram passando, e tudo mudando. Primeiro, a perda de sua mãe; depois a do seu pai.  A princípio, tentou-se conservar a tradição, mas, com o tempo, aquele elo se perdeu, cada um com sua vida e suas desculpas.  


Terminou de tomar seu café, saboreando o ultimo pedacinho do panetone  Seu celular tocou. Viu que era sua filha e uma onda de amor tomou conta de seu coração. “Mãe, você vem para a ceia, né? Vai trazer a torta de nozes da vó?” Sorriu para si mesma. – “Sim filha, a torta da vó já está pronta”. 

Sua mãe havia deixado uma herança de amor, e, anos depois, conseguia passar o mesmo aroma de amor para sua filha. Antes de sair, abriu a bolsa e olhou a receitinha dobradinha com um olhar cúmplice. Estava, assim, decretada a herança para a próxima geração.    

 

Tema: Conto (Nem tudo se perdeu)

Mary Fioratti
Enviado por Mary Fioratti em 07/12/2021
Código do texto: T7401955
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