Aquele olhar de supremacia frente ao feliz destino de ter sido preferida causava-me pânico. Nem mesmo suas finas pernas tiravam dela aquela noção de completude. Sua pele parda, seus olhos grandes, seu formato ovular e deprimido e sua astúcia. Ao entrar na casa não havia um sequer que não a notasse. O porteiro que o diga. Quantas vezes foi solicitado para frear os ímpeto daquela "guria mal amada".
Amante da cerveja, aprendeu com os brasileiros a se empanturrar do que sobra: acumuladores por natureza.
Nas ruas, becos, pontes estava ela com sua luz reluzente. Passos rápidos limitavam o contato direto. Talvez gostasse de solidão e quisesse viver no anonimato. Escondia-se nos cantos da vida por sua vulnerabilidade. Seu "lugar preferido" era a noite, na qual se esbaldava, como se não houvesse amanhã.
Mas naquela manhã de sábado, em que todos estavam preparando o Hotel para o Congresso, jogou-se à sorte:
-O que teria a perder?
Arrumou-se como se quisesse impressionar os convidados. Na mesa de Cofee Break, estavam expostas suas maiores necessidades: água e alimento. E um abrigo preparado pelos melhores decoradores para receber os congressistas.
Armou-se. Seus radares pareciam ligados e tomando impulso, se foi: Soberana e aventureira.
De repente todos começaram a correr e a gritar: ela tinha mania de gerar asco nas pessoas. A faxineira afobada, defere-lhe o primeiro golpe, arrancando-lhe a cabeça. Mas nem tudo estava perdido. Como o inseto também possuia cérebro no corpo, continuou andando, mesmo decapitada, por aquele enorme salão. Até que o Sr. Alcantara Dirceu, esmagou-a com seu sapato de bico fino, famoso pelo feito. Au revoir, barata!
E desse modo, a silantrópica preferida de Deus, a quem foram dadas asas e patas, passou a ser alimento de espécies como ela.