_________________"QUERO SER SEU PAR"

 

 

Anos de solidão, e Toninha deu a última cartada: ia tentar o mundo virtual. A terapêuta disse que ela devia. Era uma mulher madura, com esperteza suficiente para pular fora de qualquer canoa furada. Fosse. Fosse sem medo e procurasse um par, quem sabe a coisa fluísse? Tinha gente no Brasil casando com japonês e dando testemunho de mais de dez anos de feliz união. Era questão mesmo de as estrelas se encontrarem.

 

Foi ao site, fez a bio, caprichou nas fotos: quem se mostrava mais, tinha mil vezes mais chances de dar match. E ela era boba de pôr pouca coisa? Mas, nem! Era da turma do tá na chuva é pra se molhar. Toninha ficou surpresa! Em poucos segundos dezenas de rapazes lhe diziam ois, a chamavam de linda, mandavam beijos e pediam número de telefone. Ficou impressionada com o mundo de gente sofrendo de solidão. Escolheu, selecionou, apostou na terapêuta.

 

 Toninha maldisse a si. Por que não tivera a ideia antes? Tantas possibilidades, e ela repetindo o discurso de que viera ao mundo para ser só! Depois de algumas sondagens — e várias canoas furadas —, resolveu pelo Pedro Antônio, ou Lobo Solitário: bonito, maduro, engenheiro civil, com situação estabilizada; viúvo, com dois filhos casados — morando longe... bem longe! Tinha mais: gentil, educado, amante da Natureza, da Música e da Arte em geral, e salve, morador de Belo Horizonte, cidade onde ela vivia! Que perfil! Não era o homem? Era. Faltava  mesmo ele dizer:

 

— Quero ser seu par! — e ele disse.

 

Dez anos depois, Toninha e Pedro Antônio davam depoimentos na TV, num programa sobre encontros virtuais. Felizes e realizados, eles atestavam para Belo Horizonte, o Brasil e o Mundo que o mercado dos sentimentos nem sempre é traiçoeiro e oscilante como o financeiro: quando dá match de verdade, pode ser pelo resto da vida. E nem sempre é preciso ir ao Japão!

 

 

 

Tema da Semana: Mercado de sentimentos (conto)