O sol já estava a pino quando Luisa viu que o ônibus chegava na Rodoviária de sua cidade de infância.  Tomou um táxi e o motorista, simpático, fazia perguntas corriqueiras, como que querendo ganhar uma cliente para a volta, parando bem no centro da cidade.  Ela desceu e olhou o velho cinema, onde seu pai havia trabalhado por longos anos. Ao lado da Livraria principal, deparou-se com aquele jardim cheio de flores onde seu inocente namoradinho de infância havia lhe dado uma rosa que nunca havia sido tirada da roseira; ele queria atestar que aquela roseira seria dela para a vida toda.

As calçadas compridas e arborizadas a levaram à primeira casa onde morou. A emoção se apoderou de seu coração quando viu que o coqueirinho que seu pai havia plantado no jardim ainda estava lá, marcando sua presença, assim como os anturios de sua mae.  Lembrou da Padaria do Sr. Rasquinha, um homem gordo de sorriso franco que distribuia pães e amizade a todos os vizinhos. Na proxima esquina, o Clube, ah!  aquelas tardes na piscina, apostando quem ficaria mais pretinha, passando a receitinha de coca-cola no corpo. Na rua do Banhado, dos lindos pores do sol, onde num banco de jardim seu primeiro namorado contava histórias de Fernão Capelo Gaivota, tudo isso seguido de beijos molhados e apaixonados, selando o fim de muitas tardes de sonho. 

Aquele foi um dia cheio de lembranças que terminou quando tirou da bolsa seu sanduiche, despedindo-se com mais um pôr-do-sol.

Na volta, ao tomar o ônibus, sentou-se na poltrona da janela. Uma criança chorava no banco da frente, no colo da mãe, enquanto  o motorista, paciente,  explicava a uma velha senhora como seria o trajeto. Tudo parecia de repente estar voltando ao normal, como se ela, por um momento, tivesse entrado na  maquina do tempo. Recostou-se na poltrona olhando pela janela,  quando todas essas lembranças transformaram-se em um rascunho de vida. Embrulhou a saudade suavemente em sua alma, sentindo-se  muito rica naquele momento.

Tema: Mercado de Emocoes