RUTH - BVIW
Há quase nove décadas atrás nascia uma menininha muito levadinha chamada Ruth. Era um tempo de cavalos e homens montados em seus lombos, ou lombos com cargueiros. Entre irmãos e irmãs a menina era a caçula que se aventurava no topo do mais alto tronco da porteira para pular repetidas vezes no monte de esterco sujando a roupinha de alegria. Para escapar de coro também subia com o irmão no mais alto galho da mangueira a ponto de não saber o que seria pior, cair ou apanhar? Mas para ela e as primas que cortavam embaúba para fazer gangorra correr perigo significava viver feliz intensamente. Brincava de vendinha, com xícara de arroz, xícara de feijão, xícara de milho, xícara de café ou do que fizesse sentido. Quando vinha o cargueiro em sua cangaia cheia de abóboras, as irmãs escolhiam as mais fininhas compridinhas, enrolavam no pano e viravam neném. Mas essa mãezinha era bem arteirazinha. Foi com a irmã do meio bem num escondidinho enrolar na palha o cabelo do milho. Acenderam pra pitar e o irmão do meio as flagrou num grito que o fogo apagou. Ameaçadas de serem entregues ao pai evangélico, nunca mais repetiram a façanha. Chegou o dia da escola de verdade indo morar com a irmã casada que vivia amargurada. Gostava de estudar, mas não de obedecer. Tão logo o pai foi vê-la confidenciou: - ela é ruim demais comigo e me da cocada na cabeça todo dia! Tô cansada de apanhar, não gosto desta vida. O pai pegou-lhe e colocou na garupa da mula. Ruth deu adeus à escola por conta da irmã, que lhe batia, mas foi embora em plena alegria. Por lá viveu até virar moça e lhe casarem aos 16. Nunca mais soube de escola, mas soube entender a irmã por sua vez. A Ruth, menina alegre, provara da mesma sina da irmã triste que ao dar uma luz atrás da outra sem o marido ajudar, não tinha a graça de quando viviam de brincar.
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Ruth aos 19 anos
Em 1955.
Ruth agora aos quase 85: