As bonecas de Terezinha - BVIW
Terezinha era uma criança bem exótica, e seus gostos anormais chamavam a atenção de outras crianças, pois inventava brincadeiras não convencionais. Nada nela lembrava as particularidades da família, a começar pela aparência franzina, olhos esverdeados, pele clara, sardenta e cabelos ruivos, principalmente por nascer no seio nagô. Tequinha escalava árvores, escorregava de cima dos pés de bananeiras, construía passagens secretas no mato, colocava isopor nos braços para voar do cume das goiabeiras e fazia jangada de bambus para flutuar nas enchentes. A merenda vinha do quintal abastado de frutas tropicais e raizes cultivadas. Mas, antes de correr solta na imaginação realizava as tarefas de casa, e o ECA nem semente era, pois cuidava dos irmãos, lavava roupas e pratos e não estudava. Sonhava em ser letrada. Queria ser professora. Veronica, a vizinha abelhuda, foi ter uma conversa com Miana, mãe de Tequinha. – Dona Miana, a menina precisa estudar. E Miana contrariada respondeu: - Pra quê? Para ser mais uma solteirona? Não mesmo! Meta-se com a sua vida. A menina viu que o seu destino estava selado, e aos treze anos começou a colecionar bonecas de carne e osso. Casou-se.