Em Meu Leito de Morte
Em Meu Leito de Morte
Paulo Carvalhal
Em minha última passagem aqui fui um oficial fuzileiro que participei de várias missões, principalmente no Oriente Médio; fui ferido algumas vezes sem muita gravidade, vi companheiros e inimigos sendo feridos,
mutilados e mesmo morrerem.
Ah, os horrores de uma guerra. Exigem muito de um homem (soldado). Temos que tomar decisões difí- ceis como, por exemplo, atirar pra matar crianças, mulher (es), idosos ou ser feridos e mesmo mortos por es-
tes a serviço dos inimigos.
Todavia, fui, vi e venci pois finda as operações tive a felicidade de retornar ao meu querido e amado país.
Agora, como veterano de guerra enfrento diariamente outros inimigos, travo batalhas contra algumas enfer-
midades; recentemente fui diagnosticado com um câncer de pulmão e um aneurisma cerebral. Isso sem falar no diabetes que certamente adquiri face ao consumo talvez exagerado de chocolates, balas e chicles utilizado
muitas vezes pra distrair e até como fonte de energia durantes a incursões e campanas nos desertos e regiões
inóspitas.
Contudo, ainda me dou por feliz e aguardo pacientemente a visita da morte; nesse momento acho-me inter
nado em um hospital de câncer, mas sei que não vou sobreviver, porém, tenho fé em Deus e logo vou passar pro outro lado, não sei o que vou encontrar lá; espero me manter aguerrido. Já ouvi algumas pregações e al
gumas religiões pregam a existência do inferno, paraíso, purgatório, outras falam em vida eterna, e há os que
falam em reencarnação. Enquanto católico não radical e ou fervoroso tenho cá minhas dúvidas; mas sigo sem saber o que em verdade encontrarei por lá, todavia, ei de descobrir.
Felizmente conheci um voluntário que dedica horas do seu tempo semanalmente a mim, isso já a mais de
ano e até já nos tornamos amigos confidente; mas no mais das vezes sou eu que mais falo e ele escuta mui-
tas das vezes sem me julgar ou me criticar e nesses instantes sinto-me muito melhor, por vezes penso que e
le seja um anjo.
No dia de meu passamento, acordei sentindo-me como há muito não me sentia. E momento antes da hora fatídica aconteceu uma coisa; lá estava eu me sentindo tão leve que creio até que parecia voar, quando de re
pente ele disse que já havia chegado à metade do livro e quando me voltei para ele pude ver como que uma
cópia fiel dele separava-se do seu corpo que permanecia sentando na poltrona lendo aos meus pés; mas sua
cópia flutuava por todo o quarto e que em dado momento pairou sobre minha cabeceira, posou uma de suas
mãos sob minha testa, me abriu um leve sorriso; em seguida foi se afastando e novamente retornou ao seu
corpo e esta foi a última vez que nos vimos, seu rosto de semblante sempre tranquilo é a última visão que
carrego. E instantes depois, agora posso ver ao que parece ser nossas cópias; a minha deitada inerte no leito e a dele agora ajoelhada ao lado da cama a rezar e pedia para que eu fosse bem acolhido e seguisse em paz.