Estrela Cadente

O rapaz pastoreava as ovelhas como há gerações o tinham feito seu avô e seu pai. Os dias e as noites se passavam sempre da mesma forma: o alimento e a dispersão de dia, o agrupamento e o cuidado com os animais predadores à noite. Sonhos? Ele não os tinha. Se o amanhã seria sempre igual ao anteontem, ao ontem e ao hoje, sonhar pra que? Se as coisas se sucederiam sempre do mesmo modo... Foi quando aconteceu, numa noite morna de verão. Ele estava próximo às ovelhas, como costumava fazer sempre, quando viu as primeiras luzes no céu. Elas se alargaram, como a formar uma bola de fogo, que desceu em direção ao horizonte até morrer, deixando um rastro luminoso. Aquilo o transfomou. Ele não entendia muito bem o que estava sentindo, mas era algo como se um rapaz, um simples e humilde rapaz, de repente tomasse conciência dos mais profundos enigmas do universo. E só. Aquela estrela passou e o fez dar-se conta de como era insignificante e pequeno, com seu pastoreio e suas ovelhas tolas, diante de um universo que era inexplicavelmente muito mais. Lembrava ainda da imagem cruzando os céus quanto escalou a árvore e apertou forte o nó da forca. Suas ovelhas, hoje, pastam dispersas por ai. À noite, com o orvalho, sua essência chove sobre elas. Ele é agora poeira de estrelas...