I N D E C I S Ã O
Janete estava a um passo de se afastar definitivamente, ainda olhou para trás e me fitou, eu fiquei sem jeito. Era final de ano, último dia de aula no colégio, no próximo ano ela não mais freqüentaria aquele estabelecimento de ensino. Essa terrível timidez me atormentava, crescia, me deixava louco de raiva de mim mesmo, eu a queria mas não tinha coragem de enfrentá-la, de falar namoro. E olhe que isso começou logo no início do ano quando ela passou a integrar a minha turma. Eu tinha absoluta certeza que ela tinha uma "queda" por mim, modéstia a parte, mas mesmo assim essa maldita timidez atrapalhava meus planos. Soube depois que ela havia me sondado, através de outros companheiros de classes diferentes obeteve informações sobre mim. Também não tive iniciativa para cortejá-la, na minha mente ela se sentia como uma presa prestes a receber um ataque, o que nunca acontecia e tudo por minha culpa. Enfim ela se afastou e meu coração sentiu um saculejo esquisito, mas eu tinha uma outra oportunidade de tentar, seria a última chance de namorá-la. Tínhamos o baile de formatura o qual íamos participar, toda a turma do colégio estaria presente, inclusive com seus familiares.
Os dias se passaram e chegou o grande dia da formatura. A noite passada não foi boa para mim, quase não consegui dormir pensando em Janete e como faria para dominar essa minha indecisão, essa timidez sem tamanho que me assaltava. Me controlei e fiz o possível para permanecer tranqüilo na hora da festa. Todos estavam presentes, o clube estava bem arrumado, a orquestra já ensaiava os primeiros acordes musicais, a alegria era geral. Tomei uma dose de vinho "Santa Felicidade" para acalmar os nervos, estava tenso apesar de não demonstrar. Andei observando todos que iam chegando, a minha meta era detectar a chegada de Janete, a minha ilustre pretendente. Enfim ela chegou, desceu de um carro no estacionamente e vi quando ela se dirigiu ao salão já repleto acompanhada de um jovem que segurava sua mão. Isso me deixou triste (e também irritado), não podia admitir isso, era um ultraje ao meu "esforço" de conquistá-la. Mas depois voltei a mim, quem era eu para questionar a ação dela?
Após a terceira dose do vinho, por sinal muito delicioso, tomei a iniciativa de enfrentá-la, era tudo ou nada, aquele fedelho tinha que sair rápido do lado dela, Janete seria minha, pensei. Com ar de galã, elegantemente vestido, me apresentei a ela e lhe ofereci a mão (completamente gelada). Ela trajava um vestido longo de cor azul e estava muito linda. Essa não perco, pensei comigo mesmo. Educadamente Janete me estendeu a mão e eu, não sei como nem onde fui arranjar coragem, beijei aqueles dedos bem suavemente sob o olhar do "intruso" que apenas sorriu. Ainda bem que ela usava luvas e não deu para perceber que a minha mão estava gelada. Um sorriso gracioso foi a sua resposta. Apresentou o rapaz que estava ao seu lado e disse que era seu primo, o que me confortou e me deixou mais seguro.
A festa transcorreu naturalmente, houve o baile exatamente a meia noite, ela me acompanhou em algumas doses do vinho e depois de convidá-la para dançar pude perceber que estava realmente a fim de mim, só esperava a minha decisão. Um discreto beijo selou a nossa união e finalmente pude espantar de mim essa terrível timidez.