O PODER DE TRAÇAR PERFIL (BVIW)
Dorvina entrou afobada na casa, foi direto até a gaveta da sala:
- Não acredito! Duarte não pagou as contas do celular! É deixar por conta dele e me arrepender!
Para ter mencionado o sobrenome, dava para mensurar o tamanho da brabeza!
Quando o filho chegou, a janta estava quente, e a zanga da mãe havia arrefecido. Era desse jeito, a raiva esfriava. O amor, nunca. Entre eles, depois da separação, era a ternura que os unia e os fortalecia. E assim conseguiam seguir com as dificuldades e os desafios da nova vida.
Luiz Duarte era um adolescente tranquilo, um pouco diferente do convencional dos garotos da mesma faixa etária. Ficava mais mergulhado na leitura que na rua com os amigos. No fundo se achava responsável pela mãe. A ruptura familiar imputou-lhe uma maturidade precoce. Dorvina e os amigos sabiam, ele havia embrulhado o próprio sonho a fim de se dedicar ao serviço online para ajudar nas despesas da casa.
Havia um segredo, que ninguém sabia, Luiz tinha poderes! Conseguia traçar o perfil da pessoa apenas conversando com ela de duas a três vezes. O que considerava um dom e uma maldição. Dom, porque podia se proteger das artimanhas alheias. Maldição por se decepcionar com tanta gente que se dizia amiga e do bem, e não era. Salvara a mãe, e a si mesmo, de muitos falsos amigos.
- Você já a conhecia? Como soube de forma tão acertada que ela me faria isso? – Era constante ouvir da mãe. E fugia das respostas com bom humor: - Não, mãe... Usei a bola de cristal!
No fundo da sua mente evoluída, Luiz reconhecia que as ideias do coração deveriam ser levadas a sério, por isso ouvia sua intuição. E toda vez dava certo! Era comum repetir para si mesmo como um mantra de autocuidado:
- Tenho visto muita coisa nem tudo me agrada, mas meus olhos continuam abertos!
Tema proposto pelo BVIW: IDEIAS DO CORAÇÃO