Pelo Natal
Gomes Tavira era o homem. Entrava e saia coberto do pó negro da mina. Passava dias assim sem se lavar, a dormir numa enxerga sem lençóis, a comer o que havia. A cada dia se distanciava mais do que já fora. Ali, era o73. O João antigo hibernava sob camadas de roupa velha e suja. Vestia várias camisas sobre a magreza. Tinha frio umas vezes e, outras, suportava o calor das caldeiras. Disse-lhe que voltaria pelo Natal mas, quando chegasse o tempo, não era certo ter ganhos que pagassem a roupa nova, outros sapatos, a viagem que ainda seria longa. Já vira os brincos de ouro, reservara-os para o presente e prometera voltar no fim de Novembro para os pagar. Ia adiantado o mês mas, feitas as contas, talvez nem outra oferta fosse possível. Pensar ir de mãos vazias, na mesma pobreza, era mais certo. Com roupa lavada e o antigo jeito, talvez ela sorrisse, o abraçasse e gritasse para o fundo da casa: - O Pai chegou!