O Fusca 69 contra a Rosa
I Ato – O acidente
No início da ladeira tinha a Rosa; ao lado um buraco.
Bernardo escolhera passar sobre a Rosa, assim não estragaria tanto o seu carro.
E que belo carro!!!
Fusca 69 - cor abacate - original de fábrica (nunca entendi, se é original, é de fábrica!), todavia, "existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia." Shakespeare.
Continuemos...
II Ato – Coitada da Rosa
Ah! Pobre da Rosa... Lembrou da musiquinha do CravoXRosa: "O cravo brigou com a rosa/Debaixo de uma sacada/O cravo saiu ferido/E a rosa despedaçada..."
Só que ali, machucada, quebrada, atropelada. Agonizava a Rosa...
E o Fusca 69!?
- Nem um arranhão sequer.
III - Menino mau
Do outro lado da rua.
Francisco - 11 anos - tímido e... rico!
Pensou em salvar a Rosa, mas não iria sujar suas roupas novas. Mais fácil acabar de matá-la. E assim fez com simplicidade!!!
IV Ato – Morreu a Rosa
A Rosa não iria mais brigar com o Cravo, não existiria mais cantigas infantis por ali. “Ecce Muliere”: aqui jaz a Rosa.
V Ato – Outros personagens baseados em seres humanos reais
Juvenal - 12 anos - assistiu a tudo, rebelde e pobre!!! (A maioria dos pobres são rebeldes nos contos).
Não moveu um centímetro para ajudar, voltou a jogar bola com Pedro. Este não viu nada e ainda tomara o gol. Lamentava somente o gol que havia sofrido.
Beatriz, arquiteta - 29 anos – moradora da cobertura do 12º andar, viu a cena insólita de um lugar privilegiado.
Pensou alto: - Como alguém poderia andar num carro daqueles? Que horror!
Mas à frente, o Fusca 69 de Bernardo pára por falta de gasolina. Que pena! O posto mais próximo só tinha álcool e o Fusca não era “Flex”.
Roberval - 24 anos - problemas de identidade. A idade o confundia, os pensamentos eram estranhos. Por Rosa, chorou. Em seus poemas que ainda escreveria. Lamentaria sempre: - "Rosa estava mais para a cor amarela do que para a vermelha."
Letícia - 15 anos. Única semelhança com a Rosa: espinhas; e Rosa sempre tivera espinhos durante toda a sua vida até a trágico acidente. Leticinha, como era conhecida, passou perto, olhou, arrumou os belos cabelos loiros "pranchados" e saiu correndo...
Chegaria atrasada ao encontro com o namorado.
Bill era o namorado de Leticinha. Ele tinha "16 years" e dois filhos. Não pense você: duas vezes irresponsável!! Os meninos eram gêmeos. Bill e os meninos não tinham nada ver com a história. Apenas informação para quem ficou curioso sobre quem era o namorado da "loirinha" do cabelo de chapinha.
Ah, vai terminar sim... paciência, caro leitor!!!
Padre João Batista chegou... Abençoou Rosa.
- "Amém", que assim seja!
De sua bolsa retirou os documentos, um número de telefone. Ligou para a família (ligou a cobrar), mas não sem antes ter confiscado o dinheiro... Era o dízimo.
Pequeno detalhe: Rosa era fã número 1 de Padre João, ouvia todas as segundas-feiras o evangelho proferido pelo "santo-homem".
VI Ato – A família de dois
A família de Rosa era na verdade ela e o esposo.
Quem atendeu o telefone foi seu Honofre. Registrado assim, com "H" mesmo. Esposo de Rosa.
Aceitou a notícia com naturalidade e até um pouco de alegria. Pois receberia a pensão da falecida esposa - “Santa Mulher” - como fazia questão de dizer.
Funcionária pública. Não tinha filhos.
Agora Honofre aproveitaria a vida, iria enfim, achar coragem para declarar seu amor para Joana D’arc.
Joana D’arc, balconista da padaria "Pão para Todos", onde por várias vezes, seu Honofre comprou pão até sem estar com fome.
Joana não dava a mínima por ele.
Ela iria completar 18 anos dentro de 1 mês.
Seu Honofre, 64 anos e 11 meses. Sim! 1 mês para completar 65 aninhos. Tinham algo em comum – quem sabe num futuro próximo!?
VII Ato – Globalização da banalização
Enfim, até já esquecemos mesmo de Rosa.
A vida é dura!
E não temos tempo nem mais para lamentar ou chorar os que nos deixam.
Globalização, “minha gente”! Globalização!!!
Detalhes:
Coisas e coisas por trás do texto, nas entrelinhas:
1º O fusca – FMI
Rosa - países em desenvolvimento
Um visão comunista.
2º A burrice - era uma descida (via pública) e a Rosa estava no meio da rua.
3º O buraco – descaso das autoridades com as vias públicas, deve ser um buracão, pois, preferiu atropelar a pobre da Rosa.
4º Fusca, cor abacate, 69 - nada contra a cor abacate, e sim contra o ano do Fusca: 69 (não pense bobagem!).
5º Música ambiente - Não teve infância essa Rosa. Pensar em musiquinha estando à beira da morte.
6º Francisco - nenhuma referência ao pai do Zezé di Camargo e Luciano.
Matou a pobre Rosa.
Aos 11 anos já existem crianças com armas na mão, matando! Espero que vocês estejam chocados. Senão acho que o mundo não terá solução.
7º Juvenal - só pensa em futebol.
8º Pedro - mais fanático que Juvenal. Além de tudo, péssimo goleiro! Deve ter problemas de visão. Poxa, não ver o acidente, estando a jogar futebol com o amigo, o qual presenciara a tudo. Pedro deve ser autista.
9º Beatriz - esteriótipo da classe alta: só pensam em bens materiais.
24º Roberval, abaixo ao preconceito, deixa o menino escrever!!!
E não pense besteiras. Tinha 6 filhos e a mulher estava a espera de trigêmeos. E o que que tem homem chorar?
10º Letícia – igual a todo jovem – só quer beijar e beijar.
11º Bill – americano naturalizado brasileiro. Seus filhos haviam sido concebidos com uma mulher mais velha, Maria Lúcia. Mas isso é outra história.
12º João Batista – representa os padres, pastores, líderes espirituais, àqueles que se aproveitam da fé alheia. Pessoas assim não valem uma pipoca.
13º Dízimo – ninguém compra lugar no céu. Que eu saiba lá tudo é “free”.
14º Honofre – já começou a vida errada pelo nome. Não dava para esperar algo diferente dele.
15º Funcionária pública - nada contra os funcionários públicos, pois tenho amigos nesta condição. Eles têm sentimentos sim!!!
16º Joana D’arc – aqui não morreu queimada. Mas acendeu o “fogo” do seu Honofre.
171º “Minha gente” - fala de político – não confie muito. A história não tem final feliz!!!