O TAMANDUÁ E AS COBRAS

O TAMANDUÁ E AS COBRAS

11set21

A floresta estava uma bagunça total, o rei leão estava velho e desde há muito havia se afastado do poder. Era o último exemplar da espécie e não tinha a quem deixar a coroa por isso simplesmente se afastou.

Desde então vários bichos tentaram vestir o manto do poder, alguns, de quatro patas, usaram perucas no pescoço imitando jubas tentando se passar por leão. Outros que sabiam falar faziam belos discursos prometendo mundos e fundos aos animais e nada faziam. Quando os animais viram que nada acontecia além da escassez e da fome deixaram de acatar suas falas.

Os animais estavam perdidos, sem norte e não observaram que havia uma espécie de animal que aumentara em grande quantidade sua espécie, as cobras.

Ardilosamente, desde o afastamento do rei leão, as cobras começaram a ocupar todos os espaços da floresta e para isto tinham a facilidade de viver no subsolo. Mapearam toda a floresta, identificaram os locais importantes para o poder e ali sorrateiramente, usando tuneis estabeleciam uma toca e “plantavam” elementos de sua espécie para durante anos observarem, aprenderem o funcionamento e então planejarem maquiavelicamente suas ações.

Pela balburdia reinante onde os pais cada vez mais se ocupavam com a busca de alimentos para os filhotes, as cobras viram ali uma oportunidade e começaram a se oferecer para cuidar dos filhotes. No começo os pais desconfiavam, mas precisavam se afastar, e as cobras se mostravam eficientes e dedicadas, conquistando a confiança. Com estes primeiros cuidados de “babas” e pelas ausências cada vez mais longas dos pais, começaram a ensinar os filhotes, a comerem, a se locomoverem, a conquistarem espaços, a se comunicarem. Com isso tornaram dependentes os filhotes. E os pais, por necessidade ou comodidade, não prestaram atenção no que acontecia.

Os anos se passaram e a rica floresta de outrora já não tinha o verde como sua cor preponderante, o avermelhado de sua terra rica de ferro passava a ser notada e as milhares de covas habitadas por cobras que pela falta da vegetação ficavam expostas, mostravam as riquezas que elas, as cobras, acumulavam. Eram covas amplas e cheias de conforto, algumas com até três andares como os nossos tríplex.

Os animais começavam a enxergar seus erros e voltaram para suas moradias, pois já não se conseguiam alimentos na floresta que se aproximava de um deserto. Descobriram que as cobras provocaram incêndios para que, cada vez mais, os pais se afastassem dos filhotes. Neste retorno os pais já encontraram filhos crescidos e a grande maioria já não conseguiam conversar com os pais, pois sibilavam como cobras.

Um dia, porém, surge um tamanduá bandeira que sempre esteve lutando sozinho pelos valores que acreditava e contra as cobras e outras víboras que em proveito próprio abusavam da bicharada. Cautelosamente ganhou espaço falando ao “pé do ouvido de cada bicho”, as cobras e seus parceiros o julgavam muito insignificante para com ele se preocuparem e eis que num belo dia ele era reconhecido como o rei da floresta. Este tamanduá era muito esperto e tinha como conselheira uma velha raposa que sempre o orientava. Tinha um focinho muito comprido que as vezes o atrapalhava, mas a velha raposa sabendo desta sua característica a utilizava como um instrumento para agregar os bichos que ainda se lembravam saudosamente dos rugidos do velho Leão.

Meteu seu focinho em todos os buracos e covas das cobras e começou a destruir todo aquele império contando com a ajuda de tatus e formigas que iam fazendo desmoronar os tuneis e caminhos criados no subsolo.

As cobras e víboras começaram a sentir a ameaça sobre o poder supremo que queriam criar e colocaram os filhotes que criaram e estavam infiltrados para combate-lo. Tinha o cachorro que ladrava e mordia, tinham papagaios que por suas cores externas cuidavam dos animais ferozes que preservavam as invasões da floresta e assim com todos os demais que inocentemente ou não se prestavam a trair os demais bichos da floresta.

Um dia ele convocou todos os bichos para se reunirem para que retomassem o que sempre lhes pertenceu o domínio da floresta. A presença foi maciça. Ele se animou e rugiu como o Leão, todos voltaram para seus locais na floresta numa expectativa de que haveria um fulminante extermínio das cobras que sibilaram mais do nunca ameaças e ofensas.

Toda a bicharada indignada ansiava que o tamanduá atacasse e exterminasse todas as cobras inimigas. Mas nada acontecia, começaram a achar que o focinho dele era muito maior que sua coragem. Disseram que ele tinha afinado, com certeza alguns voltaram a bajular as cobras. Eis então que repentinamente aparecem notícias que algumas cobras que continuavam infiltradas começavam a desmontar seus castelos e então ficaram sabendo que a velha raposa que o aconselhava disse para ele chamar o leão, o que ele fez imediatamente. O leão então lhe ditou um comunicado que ele transmitiu aos papagaios de plantão para que dessem conhecimento a todos. E assim foi feito.

Após o conteúdo do comunicado ter se espalhado a floresta voltou a sua normalidade e as cobras se recolheram as suas tocas, os que julgaram que ele fora covarde meteram a cabeça entre as pernas, pois agora sabiam que o novo rei existia e era o Tamanduá Bandeira.

Geraldo Cerqueira

Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência.

Geraldo Cerqueira
Enviado por Geraldo Cerqueira em 12/09/2021
Código do texto: T7340432
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