Iara

A desapontada moça de olhos castanhos claros iguais a dos olhos, pele branca, de seus cento e setenta centímetros, escondia um grande segredo. Talvez fosse pela maneira que a mãe guerreira a criou, nunca lhe mostrando as fraquezas e erros, mas sempre dando o de melhor.

Assim, ela cresceu, levara da vida a graça de Iara.

A filha caçula da casa estudou pelos incentivos da mãe e se formou em manicure e pedicure. Com o dinheiro do primeiro emprego, formou-se em cabeleira.

Gosto sempre tido pelas unhas, sobrancelhas e cabelos, fazia pelas clientes o gosto do qual sempre teve na sua infância com a única irmã, já que os demais eram homens.

Sua beleza e caprichos da vida a fazia ser cobiçada pelos rapazes da vila. Assunto que muitas vezes fazia os irmãos arrumarem brigas pelo bairro. Algo que até gerava conflito entre a própria Iara com os irmãos.

Alegava ter mãos e braços para se defender, entretanto, sentia vergonha dos irmãos, já que espantava qualquer pretendente.

De todas as intrigas com os irmãos, tinha uma que era maior: era o amor doentio por Álvaro; o grande amor do tempo de escola.

Concluíram o ensino médio e na casa dos dezenove anos resolveram dar espaço à dupla felicidade. Namoraram por dois anos, assim apelando para o noivado. Noivado pelo gosto dele. Já pelo sonho dela, seria casamento mesmo.

Casamento? Álvaro sempre fugiu. Alegara ser cedo demais para dois jovens que continham muitos sonhos pela vida.

Movida por um amor extremo ao amado, Iara nunca enxergou má fé no malandro. Conselhos ou alertas nunca lhe faltou, afinal, a única irmã sempre a alertou. Confessava-a ser bonita e dependente de mais para se submeter ao gosto do namorado. Segundo a própria, o gosto deveria ser inverso.

Iara nunca levou a sério. Acreditava sempre ser o mau humor da irmã contra o amado.

Na véspera do seu noivado, o amado sumiu. Junto dele, o valor da conta conjunta que ambos guardavam pensando no futuro.

Iara, caiu no desespero: e se o namorado estivesse sendo sequestrado?

Foi a única a acreditar na hipótese. A família logo de cara suspeitou do bicho malandro.

Sumiu o dinheiro da conta e o malandro também.

Levou dias para a idônea sacar de que a família estaria sendo apenas real.

Levou anos para dar espaço para o próprio coração e substituir o amado malandro por alguém que pudesse lhe dar a bendita felicidade sonhada.

A oportunidade foi dada. Após longos anos, casou com Edgar.

Aos olhos de todos, a vida a recompensou: deu-lhe um homem rico e que a amava merecidamente.

Em quatro paredes, Iara não sentia na pele o mesmo ponto de vista de todos. Já nos primeiros anos, era um homem ciumento, cuja a tirou da rotina da mulher dependente para viver no casarão da nova vida de casada.

De início, Iara bem que aceitou. Acreditara ser o momento de aproveitar e descansar um pouco, afinal, devido a situação oferecida pela mãe, a vida foi muito corrida e nada mais do que um merecido descanso, já que o atual esposo haveria de lhe dar um pouco de conforto.

Meses passaram, preocupada para não desgastar o casamento resolveu retornar a velha rotina. Que nada! O persistente pedido foi não a todas as tentativas.

Amadurecida, sentiu a própria alma voltando ao passado, se tornando vítima do momento.

O atual marido até que a levava para passear, mas era nos seus dias de folgas e bem enciumado aos homens que a espionavam. Iara já de cara o identificava quando o ciúmes lhe atacava.

Proprietária de um casarão, sentiu obrigada a ter empregada e jardineiro para cuidar do patrimônio conquistado.

O jardineiro precisou se demitir. Alegou encontrar um serviço com mais vantagem aos direitos trabalhistas.

Com quase um mês sem jardineiro e as paisagens transformando num cenário descaracterizado, tratou de pegar o novo jardineiro que se enquadrou ao caso.

O cara de início não lhe passou segurança, mas a necessidade da casa o fez pegar e passou longos meses junto deles.

O atual jardineiro dedurava pelos próprios olhos do quanto Iara não era tão feliz na casa e no casamento. Iara muitas vezes o negava ou fazia de conta que não lia as mensagens dadas por seus olhares secretos.

A dócil Iara lá no fundo tinha uma certa razão de manter em silêncio o olhar secreto. O eterno e inesquecível amado também tinha aquele olhar. Algo que a mexia por dentro, pois via nele o homem do qual nunca o esqueceu.

Numa certa manhã, Iara andara pelo jardim a fim de ver de mais perto o excelente trabalho do jardineiro. Não tinha na mente de que o bendito dia era da escala dele. Afinal, o ele trabalhava apenas dois dias da semana no casarão.

― Bom dia, patroa! Espero que esteja gostando do serviço.

― Bom-dia! Só estou só apreciando. Aliás, nem imaginaria que fosse teu dia, hoje.

― Hoje é quinta. Trabalho sempre nas terças e quintas-feiras. – riu ele, logo ajeitando o vaso de flores e a um esterco e determinado produto desconhecido pela patroa.

― Perdão! Sabe que nem reparei nos seus dias certos. Mas que produto é esse?

― Ah, é um produto muito usado na jardinagem. Serve para fortalecer as plantas e espantar formigas. As malvadas adora devorar essa plantinha, acredita?

Ambos riam.

Por um descuido o jardineiro assobiou:

― Esse assobio! – espantou Iara a um tom que deu para ser ouvido.

― A senhora não gosta? Eu posso parar.

― Não, não é nada disso, me faz lembrar alguém. – entristeceu ela, enquanto ele logo pausou.

― Espero que seja uma pessoa do bem...

― ... e é, quer dizer, sei lá... – perturbou-se a um hesitante respiro, enquanto ele pausou o assobio.

Ficaram boas horas em silêncio.

Foi o momento de ele pegar na enxada e insinuar a ir para o outro lado do quintal.

― Espere!

Ele parou.

― Você é parente do Álvaro,?

De início ele pausou, logo empalidecendo e engolindo da própria saliva.

― Patroa, sou homem de bem. Dependo daqui para sobreviver.

― Jamais faria algo para te prejudicar. Aliás, os dedos da mão não são iguais, quem diria nós...

Ele pausou por longos minutos, enquanto ela persistiu:

― Não tenha medo. Não vou te prejudicar.

― Não vou lhe negar. Tenho um primo chamado Álvaro, sim. Eu nem sei o que ele te fez, mas saiba que hoje ele é homem de bem.

― O que sabe mais dele?

― Sei muito pouco. Ele não é de conversar muito. A vida lhe pregou uma bruta lição de moral.

― Como o que por exemplo?

― Ah, segundo as más línguas resolveu dar de pilantra contra a mulher que mais amou. Estaria em más companhia. Com o tempo, a vida lhe corrigiu e hoje paga caro.

― Ele está preso?

― Preso, preso, depende de que maneira a senhora há de pensar. Mas ele paga como um condenado.

― Álvaro pagando como um condenado?

O jardineiro sentiu um clima diferente no tom de voz da patroa. Foi quando pausou o serviço e tagarelou:

― Segundo as más línguas, ele até hoje não esqueceu a mulher que mais amou na vida.

― Verdade? – suspirou, a um sentimento de felicidade.

― Como te falei; segundo as más línguas.

― Será que é o mesmo Álvaro do que estou pensando? – cutucou ela, entrando em detalhes mais íntimos. As pistas da conversas se batiam. ― Como faço para o encontrar?

― Patroa que me desculpe, mas o patrão não há de gostar.

― Não se preocupa. Será um segredo somente entre nós dois.

Passaram boas horas conversando. O jardineiro enxergou na patroa a mulher da qual ela não poderia já de cara notar, enquanto, ela nem suspeitava de quem na verdade trataria a pessoa dele.

― Nossa! Gostei muito de conversar contigo, hoje!

Ele riu, logo a agradecendo.

― Sabe, Anaor, eu preciso encontrá-lo. Não vou negar que ele tem me causado uma grande tristeza... mas vai que você esteja falando a verdade! Posso voltar a ser feliz. Nunca fui tão feliz como fui do lado dele.

Anaor arregalou os olhos. Eles logo se separaram, enquanto ela retornou para a parte interna da casa.

― Anaor, você caiu do céu!

Sorria ele, avistando a sua partida do jardim, tão logo sumindo pela casa.

― Segredo entre nós? Com certeza. – sussurrou entristecidamente.

Sem ela por perto, Anaor pegou ao celular e fez uma ligação:

Iara, entrou pelos quartos, remoendo as últimas palavras do jardineiro.

Flagrou por inúmeras vezes daquele bendito dia e noite, seu desejo de que todas as conversas de Anaor à sua pessoa, fossem a mais pura verdade. Aguardou ansiosamente o dia seguinte clarear e sem se abrir com alguém foi atrás do amado.

No bendito lugar lá estava ele. Chegou e foi logo direcionada ao seu gabinete. Era uma advocacia.

― Então é real! – suspirou ela.

― Esperei e tanto por esse dia.

― Eu também. – disse ela, enquanto a ele, foi ao armário, logo a entregando um pacote.

― Tome! Isso é teu!

― Dinheiro nunca foi tudo para mim. – disse ela, vasculhando o embrulho. ― A tua partida sem despedir de mim, foi pior. Até hoje eu sinto sua falta.

― Você também. Nunca amei uma mulher tanto como você.

― Se me amasse tanto, por que fez isso comigo?

― Ah, foi uma loucura onde nem eu mesmo sei explicar.

O passado, as sequelas da vida, tinha lá causado feridas em seus corações. Mas os olhares, o amor ainda habitado em cada alma, foram mais forte.

Quando se viram, já não estaria mais sentados a uma mesa. Estavam próximos um do outro, matando a sede do bendito desejo de se amarem.

Descobriram juntos que naquele dia, seus amor eram verdadeiro e impacto ao tempo. Não tiveram tempo de dar um basta. Quando se viram, encontraram por inúmeras vezes nas escondidas, vivendo do bendito amor do qual jamais deveriam ser penalizados.

No intermédio de seus tempos de renamoros, Anaor sumiu da casa de Iara. Enquanto, as máscaras artificial e peruca também sumiram da vida de Álvaro, mesmo que ele teria gastado boa grana na eficiente máscara para viver Anaor e aproximar da mulher da qual tanto amou.