O MORADOR DE RUA

Certo dia, em minhas andanças, vejo, ao longe, um morador de rua embaixo de uma marquise na Rua da Praia. Existem muitos deles nas ruas de grandes cidades como Porto Alegre; porém, aquele me chamava atenção. Era bem idoso, cansado; no entanto, no rosto, um grande sorriso. Perguntava-me, como alguém naquela situação podia sorrir? Resolvi falar com o homem.
A resposta foi-me surpreendente: “Estou vivo! Isso não basta para sorrir?” Fiquei ainda mais pensativo... Nessa situação, provavelmente, não estaria sorrindo, mas, enfim, resolvi perguntar mais. Descobri que ele tinha setenta e seis anos, era aposentado e vivia sozinho. Por afundar-se em dívidas, veio morar na rua. (Nunca lhe perguntei o porquê das dívidas. Pouco importava afinal, e, também achava deselegante.)
Como, diariamente, passava pela Rua dos Andradas, parava para conversar com esse senhor. Falávamos de diversos assuntos: futebol, clima, política, e por aí! Era um homem culto, tinha opiniões fortes, e, segundo ele, lia muito. (Sempre sorrindo! Era impressionante!) Um papo ótimo!
Essa rotina durou um mês, tive de fazer uma viagem de emergência para fora do estado, passando quinze dias fora. Quando retornei, notei algo estranho, meu amigo não estava mais lá. Depois de uma semana, resolvi perguntar ao porteiro do prédio onde ele se abrigava no momento, resposta lacônica: “Morreu de frio há uns dez dias”. Fiquei sem chão. Que mundo cruel!
Rodrigo Bernardes Santiago dos Santos - 17 anos
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 02/09/2021
Código do texto: T7333945
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